Jornal da Tarde – diretor de escola é esquecido pelos pais

 

Diretor de escola é esquecido pelos pais

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Delegar para outros a responsabilidade sobre a qualidade da educação pública é característica predominante na sociedade brasileira. De acordo com a Pesquisa Ibope-Educação?, encomendada pelo movimento ‘Todos pela Educação’, 29% dos brasileiros acreditam que o Ministério da Educação (MEC) é o órgão que mais está ajudando na melhoria da educação. Enquanto isso, pouco mais de 10% da população crê que os pais de alunos e os diretores de escolas estão de fato fazendo a diferença.

Depois do MEC, aparecem o governo federal e os professores da rede pública, respectivamente. ‘Está em vigor um modelo delegativo. Em vez de participar da escola, entender o papel dos diretores e secretarias municipais e estaduais de educação, os brasileiros preferem atribuir a responsabilidade da educação para o governo e ao professor, que atua diretamente com os alunos’, afirma Fernando Abrúcio, especialista em Educação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Não só a participação ativa da sociedade, mas a boa gestão escolar ajuda na melhoria da educação pública. É o que ressalta Luís Norberto Pascoal, presidente da DPaschoal. ‘Uma boa gestão é aquela realizada por projetos e para a definição e execução de cada um desses projetos a escola precisa contar com a contribuição da comunidade, dos pais, alunos e demais profissionais da escola.’

O executivo – que é membro do movimento ‘Todos pela Educação’ – concorda que a escola bem gerida tem impacto direto no desempenho dos alunos. Destaca, porém, que não há um modelo de gestão ideal predefinido. ‘É preciso criar espaços para a troca de experiências, de forma que os diretores tenham acesso às práticas de gestão que deram certo em outras escolas e possam adequá-las à sua realidade específica.’

Na prática

Waldir Romero, diretor da Emef Comandante Garcia D’Ávila, Zona Norte – escola cujos alunos fazem questão de ressaltar que ‘era maloquinha e hoje ficou arrumadinha’ – concorda com Pascoal. ‘A gestão aberta à comunidade e a liberdade dos funcionários fizeram com que a evasão escolar e a violência fossem reduzidas. Tal abertura leva tempo, mas dá resultados.’

Waldir assumiu a direção da escola em 1996, por meio de parceria com a Escola de Samba Unidos do Peruche, freqüentada pela comunidade local, para conseguir aproximar os familiares dos alunos da escola. ‘Os pais precisam participar do cotidiano da escola. Enquanto eles ainda delegarem a responsabilidade da educação apenas aos professores, ficará difícil ter uma educação de qualidade.’

Conselho de Escola

Já Gilberto Fracheta, membro do Conselho de Escola da Emef Desembargador Amorim Lima, Butantã, acredita que a população vê o MEC e o professor como os atores que mais ajudam na melhoria da educação, pois os professores são os grandes responsáveis por boas aulas e o MEC é que garante a liberdade no currículo escolar.

No entanto, Fracheta, que é pai de ex-aluno da Emef Amorim Lima, destaca que, quando atuam em parceria nos Conselhos de Escola, diretores e pais de alunos fazem grande diferença. ‘Essa afirmação não vale só para a Amorim, mas para todas as escolas que têm bons gestores, pois quando o diretor é democrático e incentiva a participação dos pais, esses atores se tornam fundamentais para a educação de qualidade’, afirma.