Arte com Ciência

Sobre o primeiro semestre de 2007

Iniciamos o semestre com um desafio: que outras vidas existiriam na escola?
Depois de um passeio em grupo por todo o espaço externo da escola, fizemos a nossa primeira coleta.

Com essa ação, muito simples, iniciamos a construção do “olhar pesquisador”. Ao estimularmos a observação, em detalhe, com cuidado, estamos introduzindo uma nova “maneira de olhar” o mundo, essa qualidade essencial na formação de um futuro pesquisador.

O passo seguinte… olhar mais de perto, através de microscópios, das lupas, das lentes de aumento.
O passo essencial: documentar o que foi observado, detalhar, desenhar.

O desenho, “a Arte”, surge como um “instrumento” importante no processo de apreensão do conhecimento. O desenho é a representação/documentação do que foi pesquisado com os olhos, com o tato, com o olfato, com todos os sentidos em alerta.

O estímulo constante a essa “curiosidade alegre” em relação às pequenas coisas, aos acontecimentos, ao cotidiano , sensibiliza nosso futuro pesquisador a uma atitude investigativa, enriquecendo e desmistificando a capacidade de se expressar através da Arte, pois compreendemos que a Beleza surge como consequência do adensamento dos conteúdos trabalhados, pois reflete uma qualificação de repertório real sobre o objeto em questão.

E, sempre com esses conceitos presentes, demos prosseguimento ao nosso percurso: após o estudo dos insetos e animais pequenos, passamos para os animais vertebrados, com esqueleto. Através de um empréstimo de esqueletos e animais taxidermizados da Faculdade de Medicina Veterinária da Usp, pudemos observar as diferentes formas e especializações em esqueletos de ave (pingüim), de mamíferos, voadores e quadrúpedes (o morcego , o cão e o gato) , sentir a textura do couro da cobra, passar a mão no pelo da cotia.

E então passamos para o reconhecimento de nós humanos, com a observação do próprio corpo, através de detalhes, com o objetivo de não permitir que o desenho esquemático e clichê se instalasse, e sim, desse lugar a uma observação cuidadosa e detallhada. Na aula seguinte trouxemos um esqueleto humano de resina, do tamanho natural, para que entendessem como somos por dentro, como nos estruturamos, introduzindo e adensando o auto-conhecimento físico.

E o que não enxergamos, não existe? A partir desse novo desafio, criamos hipóteses, juntamente com as crianças, sobre onde poderiam “morar ” bichinhos invisíveis, e fizemos várias coletas e cultivamos em placas de ágar (um tipo de alga ) estéreis, como as usadas em laboratórios. Coletamos saliva, entre os dedos do pé, ramelinho do olho, cutucamos um nariz, coletamos na pia do banheiro, na torneira, em uma moeda, na privada, telefone,…Com o crescimento dos micro-organismos, pudemos demonstrar para nossos futuros cientistas, a importância da higiene, e como lavar a mão corretamente e o por quê, como pode se dar o contágio, os cuidados para com eles mesmos e para com os outros.

E tudo isso sempre documentado através de desenhos, de representações variadas, como colagens, costuras, trabalhando a habilidade fina, a coordenação que contribuirá também para o exercício da escrita.

Acreditamos que a beleza dos trabalhos de nossos queridos alunos está na verdade da representação do conhecimento por eles adquirido, essa conquista necessária para a construção de um estudande interessado, alegre e curioso, futuro cidadão consciente e participativo.

Massumi e Vania, professoras da 1ª série (1º semestre de 2007)

Trabalho apresentado no 24o. Congresso Brasileiro de Microbiologia