Reportagem tendenciosa do IG sobre o Amorim Lima

No dia 22 de maio, o repórter Davi Lira publicou uma reportagem sobre o Amorim Lima. Pais, professores e coordenação da escola pediram direito de resposta para pontuar os inúmeros equívocos cometidos por ele no texto. Abaixo está o texto enviado pela Escola ao IG. Após a resposta, você lê reportagem tal qual ela foi publicada.

Resposta da Comunidade e da EMEF Amorim Lima à reportagem publicada no IG:

Resposta da comunidade e da EMEF Amorim Lima à reportagem “Baixo rendimento de alunos faz prefeitura de SP repensar escola modelo para País”, publicada no IG:

Rendimento dos alunos do Amorim Lima é maior que a média nacional, ao contrário do que afirma matéria

O jornalista Davi Lira tinha um casal de amigos que matriculou o filho em uma escola considerada referência no bairro do Butantã, em SP, a EMEF Des. Amorim Lima. Um tempo depois, descontente com o desempenho da criança, o casal mudou o filho de escola, alegando que ele não aprendia nada.

O amigo jornalista, indignado com essa situação, resolveu escrever uma matéria para falar sobre os problemas da escola. Foi o próprio Davi Lira quem afirmou isso em contato telefônico feito após a publicação da matéria “Baixo rendimento de alunos faz prefeitura de SP repensar escola modelo para País”, no portal iG.

Mas como essa aparentemente não é a especialidade do jornalista, ele cometeu vários enganos. Já no título, há pelo menos três erros de informação:

1. O rendimento dos alunos no Amorim Lima não é baixo: ele está acima das metas traçadas pelo IDEB para todas as escolas, como veremos adiante.

2. Não foi o alegado “baixo rendimento” do Amorim que levou a Prefeitura a repensar a “escola modelo”. De acordo com a Secretaria de Educação, o que existe é um projeto de reforma curricular chamado “Mais Educação São Paulo”, que se refere a toda a estrutura escolar de SP.

3. O Amorim não é uma escola modelo, mas sim uma escola experimental.

Sobre o rendimento dos alunos, o que teria levado o jornalista a concluir que “o seu desempenho [da escola] vem despencando a cada edição da Prova Brasil”? Simples: ele analisou os dados gerais, que são positivos e crescentes, e extraiu apenas aquilo que interessava à sua tese – os dados do 5º ano, fase de transição na qual, realmente, os alunos do Amorim ficam abaixo da média.

O que faltou informar é que no 9º ano, ao final do ensino fundamental, os alunos não apenas recuperam essa queda, como ainda ultrapassam, de longe, os resultados do Brasil e da cidade de SP. Os dados estão lá, no site utilizado pelo próprio jornalista (www.qedu.org.br/escola/193855-emef-amorim-lima-des/evolucao), para quem quiser ver: de 2007 para 2011, crescemos 14 pontos percentuais, com Evolução do Aprendizado na Escola de 40%, contra 22% no país e 23% em SP. Isso em Português.

Mais um problema de seleção de dados: ao afirmar que “em matemática, só 15% dos alunos do 9º ano aprenderam o adequado” quando o índice deveria alcançar pelo menos 70%, ele esqueceu de mencionar que o percentual da rede é de 12% no Brasil e de 9% em São Paulo. O índice de 70% foi definido pelo IDEB como meta a ser alcançada até 2022.
Outro resultado positivo que não despertou o interesse do jornalista: o Amorim teve números superiores à média da cidade na Prova São Paulo, tanto em Matemática quanto em Português. A média do 9º ano em Português, em 2010, foi de 230,4, contra 213,1. Em Matemática, foi de 238,1 contra 220,3.

E não são apenas os dados que estão equivocados na matéria. O autor afirma que “os professores não seguem o currículo oficial”. Isso é uma questão de política pública, nenhuma escola no Brasil pode abandonar o currículo oficial. Ele é a base dos roteiros de estudo usados no Amorim, e os livros são os indicados pelo MEC. A diferença está na forma em que o conteúdo é passado aos alunos.

Também não é verdade que os alunos não são avaliados. Apesar de não serem ministradas provas em formato tradicional, os alunos são avaliados semanalmente, e têm que preencher fichas de finalização de todos os roteiros – que têm que ser feitos em sua totalidade, ao contrário do que dá a entender a legenda da foto: “Alunos escolhem o que querem aprender a partir de um roteiro de estudo”.

O jornalista também deixou de lado um dos preceitos básicos do jornalismo: ouvir o outro lado. Em sua ânsia de adequar os dados e declarações à sua tese, inventou uma resposta da diretora da escola sem jamais ter falado com ela. Diz a matéria: “Questionada sobre o desempenho da instituição, a diretora da Amorim Lima, a reconhecida educadora Ana Elisa Siqueira, informou que não tem uma razão específica para justificar o baixo desempenho em português.”

Os problemas que enfrentamos no Amorim não são exclusivos desta escola, mas inerentes a toda a rede pública do País.

É uma pena que, em vez de tratar de assuntos mais urgentes à educação brasileira, e com a intenção de desqualificar um trabalho pioneiro e de qualidade, um profissional prefira praticar um jornalismo do pior tipo possível: tendencioso, equivocado e com motivação pessoal.

Por último, vale informar que a escola vai aproveitar a matéria de Davi Lira de forma positiva, para trabalhar com os alunos do 6º ano o roteiro “Você é o repórter”. É uma excelente oportunidade para ensinar a eles conteúdos de matemática, português e, por que não, ética.

Ass. Comunidade Amorim Lima


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AGORA, leia a reportagem publicada:

Baixo rendimento de alunos faz prefeitura de SP repensar escola modelo para País

Na Amorim Lima, uma das pioneiras da educação democrática no País, alunos acumulam baixos resultados nas provas do MEC

Na Amorim, alunos escolhem o que querem aprender a partir de um roteiro de estudo
Considerada como um modelo de gestão da educação no Brasil, a escola municipal de ensino fundamental Desembargador Amorim Lima, localizada na zona oeste de São Paulo, vem apresentando resultados ruins nos principais índices oficiais que ajudam a medir o nível de apropriação de conhecimento pelos alunos. A situação levou à prefeitura de São Paulo a repensar agora o formato experimental adotado pela unidade de ensino fundamental desde 2003.
A postura do governo pode ser vista pela comunidade escolar como o duro golpe à lógica pedagógica seguida pela unidade, baseada no ideário das escolas democráticas. Na Amorim Lima, não há provas, os professores não seguem o currículo oficial e os alunos têm a autonomia de decidir os assuntos que vão estudar.
Uma das principais medidas que a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME) vai propor é o retorno de avaliações aos estudantes da unidade. A previsão é que a escola passe a fazer avaliações bimestrais para ser melhor monitorada pela prefeitura, como já ocorre nas demais escolas municipais. Desde que conseguiu apoio e autorização da prefeitura para adotar um regime diferente das outras unidades da rede, há 11 anos, os estudantes da Amorim Lima não fazem provas. Eles são avaliados por professores a partir da participação em atividades e realização de projetos durante as aulas.
Mesmo com tais inovações, que contam ainda com salas sem paredes e integração de estudantes de séries diferentes em um mesmo salão, apenas 30% dos mais de 100 alunos do 5º ano conseguiram aprender o que é considerado como adequado em leitura e interpretação de textos. O porcentual é inferior à média das escolas da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo, do Estado e até do Brasil. Em matemática, só 15% dos alunos do 9º ano aprenderam o adequado. O ideal era que ambos os índices alcançassem pelo menos 70%.
“Agora chegou o momento da cobrança mais efetiva. Exigiremos da escola uma prestação de contas mais quantificada [sobre o desempenho dos alunos]. Vamos cobrar da Amorim Lima uma melhoria nos índices. Não é possível, que o garoto que estuda numa escola como ela, não saiba fazer uma conta ou que tenha um desempenho tão básico”, afirma Fernando Almeida, diretor de Orientação Técnica (DOT) da SME.
Segundo ele, porém, todas as cobranças serão feitas de forma “diferenciada”, tendo em vista as particularidades da unidade. “Mas o trabalho deles deve ter alguma prova, uma documentação formal. É isso o que o Brasil espera”, fala Almeida, citando a referência que a escola possui no País. Foi durante a gestão de Almeida como secretário de educação no primeiro ano da gestão da ex-prefeita Marta Suplicy que foi desenhado esse atual modelo seguido pela Amorim Lima. Há quase um ano o diretor vem acompanhando mais de perto ainda os resultados da escola.
O fato é que a situação da Amorim se torna ainda mais crítica quando se observa como o seu desempenho vem despencando a cada edição da Prova Brasil, uma das principais avaliações do Ministério da Educação (MEC). Na edição de 2007, o porcentual de aprendizado adequado em português no 5º ano era de 38%, em 2009 era de 34% e na última edição do exame chegou aos 30%. Enquanto a unidade sofre quedas subsequentes a cada edição, as escolas da capital paulista, do Estado e do País só melhoraram nessa etapa de ensino.
Os dados, oriundos do MEC, foram compilados pela Meritt Informação Educacional e pelaFundação Lemann a partir do cruzamento com a classificação de referência sobre adequação de conhecimento proposta pela ONG Todos Pela Educação. Os números foram consolidados no portal QEdu, uma plataforma online de informações educacionais reconhecida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) – o órgão do MEC que organiza as avaliações – como um portal de confiança.
Além desses cruzamentos, ao se analisar o dados do desempenho na Prova Brasil e no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a escola também não vai bem, especialmente nos anos iniciais do fundamental já que nos anos finais a situação é mais positiva. Houve queda do IDEB na última edição em 2011, e a unidade não alcancou a meta estipulada pelo MEC. Na Prova Brasil, os alunos do 5º ano da Amorim Lima alcançaram 181 pontos na avaliação de português. Com essa pontuação, é possível dizer que os estudantes não conseguem perceber de forma completa certas expressões metafóricas ou desfechos em histórias em quadrinhos, segundo a escala de competências do Inep.
“Mesmo tendo algumas falhas, é importante lembrar que a Prova Brasil é uma avaliação nivelada por baixo. Nela, é exigido tão somente o básico do básico do aluno. Uma pontuação de 181 é muito baixa”, afirma a consultora em educação Ilona Becskehazy, especialista em avaliação de larga escala. Ilona ainda destaca que essa prova do MEC deve ser considerada pelas escolas como instrumento de análise do nível de qualidade do ensino ofertado ao estudante. “Ela não é completa por si só, mas, ao menos, por meio dela é possível monitar o direito do aluno de aprender”, diz.
À pedido do iG Educação, a consultora mapeou a situação da Amorim Lima em relação a outras unidades. Segundo ela, a posição da escola é “bem pior” que as demais escolas de São Paulo. “Com essa pontuação na Prova Brasil (181), a escola está localizada juntamente com as 25% unidades com desempenho mais baixo. Quase metade das escolas municipais do Estado tem média superior à Amorim Lima nesse nível de ensino de ensino”.
Questionada sobre o desempenho da instituição, a diretora da Amorim Lima, a reconhecida educadora Ana Elisa Siqueira, informou que não tem uma razão específica para justificar o baixo desempenho em português. Durante evento realizado na capital paulista recentemente, Ana Elisa afirmou que “os alunos gostam de fazer as provas”. O índice de participação dos estudantes nas últimas edições das avaliações é sempre superior a 70%.
Fundada na década de 50, a Escola Amorim Lima tem mais de 700 estudantes matriculados

Escolas Democráticas X Indicadores Educacionais
O desempenho da Amorim Lima nas provas oficiais e a nova resolução da prefeitura abrem espaço para uma outra discussão: a valoração de índices objetivos de desempenho como critério de qualidade. O debate fica ainda mais intenso quando as instituições em questão são unidades que se baseiam na lógica das escolas democráticas, que têm como preceitos a valorização da gestão democrática e o enfoque na formação cidadã.
“Eu não conheço nenhum país sério que tenha uma escola púbica que não precisa mostrar resultados. Nada contra escolas experimentais ou regras menos flexíveis, mas as instituições precisam prestar as contas durante e depois de todas as inovações que propuserem”, afirma Claudio de Moura Castro, ex-diretor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência federal que também tem entre suas missões melhorar a qualidade educação básica no País.
Tendo como outros pilares o aprendizado por interesse e participação da comunidade na vida escolar, unidades como a Amorim Lima – que seguem esses ideários das escolas democráticas – propõem uma verdadeira quebra da lógica utilizada pela escola tradicional, geralmente mais conservadora e enfadonha para o estudante deste novo século.
O sucesso entre pesquisadores de todo o país e da comunidade escolar, que elogiam a forma como é conduzida a unidade, faz com que os educadores coloquem a Amorim Lima como um exemplo que deveria servir de inspiração para instituições de todo o país. Atualmente, no Brasil, existem algumas dezenas de escolas e organizações que se autodenominam “democráticas”, tanto públicas quanto privadas. Muitas delas não seguem o currículo tradicional nem a formatação habitual dos conteúdos como as demais escolas.
Confira relação de escolas com práticas inovadoras e democráticas:
Mesmo com a aprovação de pais e alunos, o fato é que a prefeitura não está satisfeita com os resultados da Amorim Lima nas avaliações do MEC. A postura do governo paulistano, contudo, é criticada por outros especialistas.
“As provas avaliam determinados aspectos, não o conjunto. Na Amorim, uma coisa que eles valorizam muito é o protagonismo dos alunos. Ela pode estar mais fraca no português, mas tem uma atitude mais positiva na construção do conhecimento e da autonomia do estudante. Avaliações de larga escala não conseguem pensar nesse tipo de coisa”, diz Silvia Colello, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Um dos “pais” da educação democrática no Brasil, José Pacheco critica posição da SME
A opinião é compartilhada pelo educador português José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, instituição à qual a Amorim Lima se baseou para a implantação do seu atual modelo pedagógico. “O IDEB não é capaz de avaliar uma educação integral. O ´D´ da sigla não é de desenvolvimento, o `D` é de decoreba. Proponho à prefeitura a realização de um debate sério sobre avaliação, sem certezas absolutas, mas um debate sobre uma avaliação mais fraterna e construtiva”, diz Pacheco.
O educador que hoje reside no Brasil, contudo, acredita que “ao ter um IDEB alto, ninguém vai poder falar mal de escolas inovadoras” como a que ele atualmente conduz em Cotia (SP), o reconhecido Projeto Âncora. “Queremos provar para o Brasil que é possível oferecer uma educação integral e ter um IDEB 10. É o que pretendemos no Âncora: ser a primeira escola com nota máxima no IDEB”, afirmou durante conferência na capital paulista nesta quarta-feira (22).
O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), José Fernandes de Lima, é outra voz que também afirma ser “necessário relativizar” os resultados das avaliações externas. “Essas provas não são capazes de avaliar nem um décimo do que é a escola, isso é um ponto. Por outro lado, não devemos desconsiderá-las por completo. É por isso que defendemos que o MEC crie um sistema mais eficaz que permita as escolas melhor se apropriarem dos resultados observados pelos exames. Hoje, elas não conseguem traduzir a nota em melhoria dos processos pedagógicos”, diz Lima.
Ainda segundo ele, países estrangeiros estão atualmente criticando o formato dessas avaliações em larga escala. Recentemente, por exemplo, um grupo de renomados educadores estrangeiro criticaram o Pisa, a principal avaliação de estudantes do mundo. Segundo eles, o exame tem levado as escolas a se preocuparem demasiadamente em ficarem bem colocadas em rankings, ao invés de estarem voltadas para o desenvolvimento de outras dimensões da educação, como as mais vinculadas às habilidades socioecomocionais, por exemplo.