Capoeira Ceaca – Ponto de Cultura e Ação Griô
Capoeira, uma luta e dança brasileira
A palavra é de origem indígena (Tupi), Kapu-era, que significa gaiola de carregar objetos, e também mato ralo, clareira onde os negros refugiados se escondiam para fazer suas casas (Kilombos). A própria palavra denuncia sua origem “rural”, diz o Antropólogo Oderpe Serra da Universidade Federal da Bahia, mas há quem diga que a capoeira foi nascida na zona urbana, isso afirma o pesquisador baiano Waldeloir Rego (Ensaio Etnográfico sobre a capoeira angola).
Dança da Zebra ou N’ogolo, é um ritual (luta) de Angola (África), onde os rapazes da aldeia disputam (lutam), e o vencedor fica (casa) com a moça que atingiu a idade de casar. Waldeloir Rego conclui que N’ogolo virou folguedo; um divertimento praticado pelos escravos nos Domingos e Feriados. Com o tempo, a prática teria se transformado em exibição de habilidade, destreza e leveza de movimentos, chegando ao jogo de capoeira no século XIX. Mas a capoeira existe desde o início do século XVIII, tendo seu auge em todo o século XIX, com a chegada da família real no Brasil, em 1808.
Há quem diga que capoeira é uma arte “marcial” brasileira de origem africana, uma dança-luta de defesa pessoal praticada ao som do berimbau, agogô, pandeiro e atabaque. Ao ritmo destes instrumentos os lutadores gingavam o tempo todo (dançam), e essa dança luta preparava os negros para o desigual combate com os portugueses. Normalmente praticada nas senzalas, os feitores não entendiam o que estavam acontecendo e não entendiam os dialetos negros: cabinda-gêge-angola-moçambique-ganhola bunda-congo-mina-malê-calabá-queto e ijecha etc. A história da capoeira é muito complexa, e as pesquisas científicas são recentes, levando em consideração os 500 anos da “descoberta” do Brasil.
Hoje a capoeira se encontra em outra situação. Ela está nas escolas de ensino fundamental e médio, nas Universidades, Teatros e Cinema; está na literatura e na televisão, com as telenovelas. Ela é um forte objeto de estudo nos meios científicos com dissertação de mestrado e teses de doutorado no Brasil e no exterior. Está em vários países da Europa, EUA, Ásia e América Central. Nós, do CEACA, já ensinamos capoeira nos Estados Unidos, na Universidade Estadual do Colorado, na cidade de Fort Collins; para crianças de ensino fundamental,médio e universitário – Universidade de Denver – Universidade de Golden. Na França, em Bordeaux, e em Porto Rico, na cidade de San Juan, para comunidade de crianças carentes.
Mestre Alcides de Lima
Ponto de Cultura Amorim Rima e Ação Griô
A tradição oral tem como característica fundamental a incansável repetição fidedigna do discurso do fato narrado, isso para que haja uma reprodução da narrativa daquilo que deve ser repassado das antigas gerações para as novas, se faz necessário uma linguagem simples e associada a dinâmica do dia a dia do indivíduo (pode ser também um conto ou um mito ligado a ancestralidade daquele grupo) e/ou de sua comunidade.
A hierarquia e o reconhecimento da sabedoria dos mais velhos são pontos fundamentais, são o ápice do fundamento na manutenção das tradições da oralidade, isso se reconhece e se expressa nas manifestações da cultura popular como: festas religiosas, casamentos, rezas e rituais de passagem.
No primeiro caso analisaremos a letra de uma música cantada por Clementina de Jesus, e reproduzida muitas vezes pelo Griô da Tradição Oral Alcides de Lima,
“Xique xique Macambira,
filho de preto d’angola,
inda bem não sabe lê
já qué sê mestre de escola”
Nessa quadra podemos observar a fala, ou o recado de alguém que conhece os fundamentos da tradição oral, ele está criticando um mais jovem que acha que está acima dos mais velhos, é como o ditado, “quer ensinar Pai nosso ao Vigário”, isso geralmente é cantado quando se quer mandar um recado a alguém, e ele deve entender a mensagem, mais muitos não entendem.
“Obedece, Obedece
O filho não dá no Pai
E discipulo num dá em Mestre
Veja que a barba cresce
Na hora do jogo duro
Discípulo cai em apuros
quando desobedece
Mas as vezes ele oferece
até uma boa imagem
E sai fora da rodagem
Pra ver se o povo se esquece”
Nesses versos cantados muitas vezes em aula pelo Mestre Griô Durval, traduzido para o ensino formal, nos diz sobre a importância e o respeito que os mais novos devem ter perante os mais velhos, ou seja, os alunos pelos professores, os filhos pelos pais, os discípulos pelos Mestres, pois, esses por terem mais tempo e vivências adquiriam experiências e conhecimentos e estão mais preparados para enfrentar o mundo e as dificuldades da vida, podendo assim indicar – lhes o melhor caminho a ser seguido, caminho onde poderão colher bons frutos.
“O jogo de capoeira
Na cidade e no sertão
Joga negro e joga branco
Em perfeita união
Capoeira antigamente
Violenta e matadeira
Hoje é arte e esporte
Nesta terra brasileira
Jogo em cima jogo em baixo
Jogo em pé jogo no chão
Vou calçado ou descalço
Todos somos cidadãos”
Essa música de autoria e cantado pelo Griô da Tradição Oral Dorival dos Santos, nos remete a enterder que, antigamente devido ao “pré-conceito” quanto à cultura afro-brasileira, a capoeira era vista como coisa só de negros, no verso – calçado ou descalço – traduz que a capoeira ultrapassou a barreira do “pré-conceito” estando hoje em todas as classes sociais, centros esportivos, escolas e universidades, complementando o ensino formal.
Trecho do Registro de vivência – Ação Griô / Ponto de Cultura Amorim Rima – São Paulo/SP
Ponto de Cultura Amorim Rima
4ª Encontro Regional Griôs da Tradição Oral – 09/2007
Rio do Sul/Presidente Getúlio – SC
Griô Mestre da Tradição Oral: Durval Antônio da Silva (Sr.Durval)
Griô da Tradição Oral: Alcides de Lima (Mestre Alcides)
Griô da Tradição Oral: Dorival dos Santos (Mestre Dorival)
Griô Aprendiz da Tradição Oral: Rodrigo Matins Garcia (Pança)
Conheça melhor o Ceaca no endereço:
www.capoeiraceaca.org.br