Projeto leva tradição oral e dança a escolas públicas.

Cultura popular é utilizada por educadores no ensino de crianças e jovens

José Maria Mayrink

De Lençóis (BA), onde nasceu como ponto de cultura de educação e tradição oral, a pedagogia do Grão de Luz e Griô espalha-se. Cinco anos após seu reconhecimento pelo Ministério da Cultura, que destina R$ 2,8 milhões por ano à rede para formar educadores, o programa mantém 130 projetos, cada um com quatro mestres e um bolsista.
A figura do griô – um velho que costuma percorrer aldeias para transmitir a tradição de seus ancestrais às novas gerações – nasceu no Mali (África). “São pelo menos 650 bolsistas e mestres que se guiam pelo conceito griô, que não é a gente, mas a comunidade que define”, comemora Márcio Caires, o Velho Griô, que em 1999 começou a percorrer a Bahia com seu violão, cantando e repetindo histórias que aprendeu com moradores da região. Lilian Pacheco, sua mulher, construiu a pedagogia griô para juntar teoria e prática nas escolas, que seria ensinar por meio da tradição oral aliada a dança e música.
Europeus se entusiasmaram com a experiência e financiaram o Grão de Luz e Griô. Um grupo espanhol que trabalha com a tradição galega manda R$ 50 mil por ano e amigos de Genebra, na Suíça, contribuem com R$ 64 mil. Essa parceria já existia em 2003, quando o projeto ganhou o Prêmio Itaú-Unicef?, destinado a entidades dedicadas à pesquisa para melhorar o ensino regular.
Caires segue em Lençóis, mas percorre Estados para animar novos projetos. “Nosso trabalho é no meio rural, mas pode ser transportado para as cidades”, diz. Formado em Administração, abandonou a área para se tornar o cantador de chapéu grande e paletó enfeitado de fitas que encanta as crianças.
Colégios como o Pedro II, no Rio, e escolas como a Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, inscreveram pontos de cultura na Rede Ação Griô Nacional, para somar a pedagogia da tradição oral a métodos formais de ensino. A Escola de Comunicações e Artes, da USP, também aderiu ao projeto, por iniciativa do professor Sérgio Bairon Blanco de Sant?Ana, que aplica a pedagogia griô com seis mestres de cultura popular de Jequitibá (MG). Os bolsistas recebem por mês R$ 380 do MinC. A bolsa tem de ser renovada todo ano, mas pode se tornar permanente se for aprovada a Lei Griô Nacional, cuja minuta uma comissão de mestres e aprendizes discute em Salvador.

Fonte:O estado de São Paulo