Folha de São Paulo – Eu acredito na escola pública

OCTÁVIO MOTTA FERRAZ
Da equipe de trainees

Dona Luisa Nakabashi e seus 4 filhos, Careen, 27, Myna, 29, Nicols, 25, e Cassius, 15 (da esq. da dir.), na escola estadual Érico de Abreu Sodré, na Vila Mariana, onde todos estudaram
No Brasil de hoje, quem tem condições financeiras não deve pensar duas vezes antes de colocar seus filhos numa escola particular, certo? Errado. Pelo menos é essa a opinião do corretor de seguros Luiz Braga, da funcionária aposentada do Banespa Luisa Nakabashi e da jornalista Ivanir Lopes. Eles têm em comum a convicção de que a escola pública ainda é a melhor opção para seus filhos.

Braga, Nakabashi e Lopes fazem parte de uma minoria no país. Segundo pesquisa do Inep de maio deste ano, apenas 7,5% dos alunos da escola pública são de famílias das classes A e B. A grande maioria dos alunos vem de famílias das classes D e E (58,1%) e C (29,7%).

Para Luiz Braga, a idéia generalizada de que as escolas particulares são muito melhores que as públicas “é um engodo”. No ano que vem ele colocará seu filho de seis anos na escola pública municipal Desembargador Amorim Lima, do bairro do Butantã (zona oeste de São Paulo).

“Não conheço nenhuma escola particular que tenha um projeto pedagógico tão diferenciado como a Amorim Lima”, afirma. Dá como exemplo a questão da cidadania. “Nas escolas particulares, o assunto costuma fazer parte do currículo, como outra matéria qualquer.” Na Amorim Lima, diz, “a cidadania faz parte do próprio projeto pedagógico”.

Outro ponto importante para ele é a diversidade social dos alunos. “Na escola pública meu filho vai estudar com gente de todas as classes, desde o filho das pessoas pobres que moram na favela São Remo (próxima à escola), até filhos de professores da USP e profissionais liberais como eu”, diz.

Esse ponto também é ressaltado pelo psicanalista Contardo Calligaris, cujos três filhos estudaram em escola pública no exterior. Para ele, “a escola privada, mesmo que seja excelente, tem um déficit social, ou seja, ela não proporciona a experiência que a escola pública proporcionaria, de conviver durante os anos de escolaridade com diversos níveis sociais”.

Luisa Nakabashi tem idéias parecidas. Todos os seus quatro filhos estudaram em escola pública. Os três mais velhos, Myna, Careen e Nicols, que já terminaram o ensino médio, freqüentaram as escolas estaduais Érico de Abreu Sodré e Brasílio Machado, ambas na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). O filho mais novo, Cassius, 15, está na sétima série da escola estadual de ensino médio Rui Bloen, em Mirandópolis (também na zona sul).

Nakabashi decidiu que os filhos iriam estudar em escola pública para “se deparar com a realidade; para conviver com crianças que nem condições de comprar uniforme tinham”.

Assim como Braga, ela acha que há uma supervalorização da escola particular, ressaltando que seus três filhos mais velhos estão na universidade. Myna, 28, faz doutorado em biologia na USP.

Para a jornalista Ivanir Lopes, que tem um filho na sétima série da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, a principal razão para manter seu filho lá é o projeto pedagógico diferenciado. “A educação na Escola de Aplicação tem um componente lúdico que não se encontra em outras escolas, nem mesmo nas particulares”, afirma.

Todas essas escolas, porém, são destaques dentro de um sistema público com muitas falhas. Se tivesse que optar entre a escola particular e uma escola pública padrão, Calligaris admite que provavelmente escolheria a primeira. Lopes pensa da mesma maneira e colocará seu outro filho, que não conseguiu vaga na Escola de Aplicação, em escola particular.