Conheça a Oficina Arte Com Ciência

Se alguém pedir que você desenhe uma folha de planta, que desenho você fará? Provavelmente, o desenho abaixo, não é?

Pois no Curso de Arte Com Ciência, ministrado pela arquiteta Massumi e pela veterinária Vânia, os alunos do primeiro ano, aguçaram o olhar para “enxergar” muitos outros tipos de folhas… Pontudas, compridas, gordinhas, redondas, triangulares…

As crianças coletaram folhas pela escola, usaram-nas como carimbos e fizeram quadros que foram expostos em junho e julho, nos corredores da escola

A Oficina Arte Com Ciência, que acontece uma vez por semana para os alunos do primeiro ano do Amorim Lima (manhã e tarde), tem como proposta aproveitar a curiosidade das crianças e desenvolver neles um “olhar pesquisador”. A história do desenho das folhas é apenas um exemplo. As folhas – de vários tipos – estão aí, o tempo todo, na nossa frente. Mas nosso cérebro se acostuma a desenhar sempre o mesmo tipo de imagem. Se aguçarmos nosso olhar pesquisador e nossa curiosidade pelo mundo, começaremos a notar as diferenças.

A arquiteta e arte-educadora Massumi, no dia da reunião de pais. Ela une o rigor da ciência e a abstração da arte em suas aulas.

Foi com uma apresentação estimulante que a educadora Massumi mostrou na reunião de pais todas as atividades desenvolvidas com as crianças ao longo do primeiro semestre. Ela contou, por exemplo, que as crianças acompanharam e catalogaram o crescimento de algumas plantas, descobriram sobre os microorganismo (fazendo uma divertida coleta de material sobre as mesas, nas paredes, nos próprios pés e nas mãos para ver como fungos se desenvolviam em placas de Ágar – recipientes cilíndricos que os biólogos utilizam para observar crescimento de cultura de micróbios). Cada etapa culminava em um trabalho de reprodução artística com colagem, pintura ou desenho. Os alunos ainda fizeram pão para descobrir, entre outras coisas, que o fermento é um microorganismo do bem e faz a massa crescer.

Uma exposição, no corredor da sala do primeiro ano, deixou à mostra o resultado do que as crianças aprenderam nesta oficina incrível. No segundo semestre tem mais. Que bom!

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Reprodução dos microorganismos que cresceram nas placas de Ágar
As crianças observaram os crescimentos das plantas e anotaram etapa por etapa.

Arte com Ciência

Sobre o primeiro semestre de 2007

Iniciamos o semestre com um desafio: que outras vidas existiriam na escola?
Depois de um passeio em grupo por todo o espaço externo da escola, fizemos a nossa primeira coleta.

Com essa ação, muito simples, iniciamos a construção do “olhar pesquisador”. Ao estimularmos a observação, em detalhe, com cuidado, estamos introduzindo uma nova “maneira de olhar” o mundo, essa qualidade essencial na formação de um futuro pesquisador.

O passo seguinte… olhar mais de perto, através de microscópios, das lupas, das lentes de aumento.
O passo essencial: documentar o que foi observado, detalhar, desenhar.

O desenho, “a Arte”, surge como um “instrumento” importante no processo de apreensão do conhecimento. O desenho é a representação/documentação do que foi pesquisado com os olhos, com o tato, com o olfato, com todos os sentidos em alerta.

O estímulo constante a essa “curiosidade alegre” em relação às pequenas coisas, aos acontecimentos, ao cotidiano , sensibiliza nosso futuro pesquisador a uma atitude investigativa, enriquecendo e desmistificando a capacidade de se expressar através da Arte, pois compreendemos que a Beleza surge como consequência do adensamento dos conteúdos trabalhados, pois reflete uma qualificação de repertório real sobre o objeto em questão.

E, sempre com esses conceitos presentes, demos prosseguimento ao nosso percurso: após o estudo dos insetos e animais pequenos, passamos para os animais vertebrados, com esqueleto. Através de um empréstimo de esqueletos e animais taxidermizados da Faculdade de Medicina Veterinária da Usp, pudemos observar as diferentes formas e especializações em esqueletos de ave (pingüim), de mamíferos, voadores e quadrúpedes (o morcego , o cão e o gato) , sentir a textura do couro da cobra, passar a mão no pelo da cotia.

E então passamos para o reconhecimento de nós humanos, com a observação do próprio corpo, através de detalhes, com o objetivo de não permitir que o desenho esquemático e clichê se instalasse, e sim, desse lugar a uma observação cuidadosa e detallhada. Na aula seguinte trouxemos um esqueleto humano de resina, do tamanho natural, para que entendessem como somos por dentro, como nos estruturamos, introduzindo e adensando o auto-conhecimento físico.

E o que não enxergamos, não existe? A partir desse novo desafio, criamos hipóteses, juntamente com as crianças, sobre onde poderiam “morar ” bichinhos invisíveis, e fizemos várias coletas e cultivamos em placas de ágar (um tipo de alga ) estéreis, como as usadas em laboratórios. Coletamos saliva, entre os dedos do pé, ramelinho do olho, cutucamos um nariz, coletamos na pia do banheiro, na torneira, em uma moeda, na privada, telefone,…Com o crescimento dos micro-organismos, pudemos demonstrar para nossos futuros cientistas, a importância da higiene, e como lavar a mão corretamente e o por quê, como pode se dar o contágio, os cuidados para com eles mesmos e para com os outros.

E tudo isso sempre documentado através de desenhos, de representações variadas, como colagens, costuras, trabalhando a habilidade fina, a coordenação que contribuirá também para o exercício da escrita.

Acreditamos que a beleza dos trabalhos de nossos queridos alunos está na verdade da representação do conhecimento por eles adquirido, essa conquista necessária para a construção de um estudande interessado, alegre e curioso, futuro cidadão consciente e participativo.

Massumi e Vania, professoras da 1ª série (1º semestre de 2007)

Trabalho apresentado no 24o. Congresso Brasileiro de Microbiologia

Escola desenvolve projeto modelo de resgate cultural

Na Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, pais e professores se uniram com a proposta de cuidar da infância e preservar a cultura do País.
Com uma dose de boa vontade e seguindo a fórmula que soma carinho, organização, presença e participação da comunidade, a arte e a educação puderam caminhar juntas e fizeram da Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, um exemplo a ser seguido.
Tudo começou quando a Associação de Pais e Mestres da escola resolveu atuar de maneira mais ativa na vida escolar. Em um primeiro momento, as mães receberam a incumbência de inventar atividades para a hora do recreio. “Elas resgataram brincadeiras simples e populares que já fizeram parte da infância e hoje em dia ficaram de lado, como roda, pular corda, amarelinha”, lembra a diretora Ana Siqueira. A bagunça do recreio cresceu, integrou crianças e mães e ganhou o status de Oficina de Brincadeiras. “As crianças, hoje, vivem isoladas em casa, a rua é uma ameaça e todo o lado lúdico que o ato de brincar na rua oferecia se perdeu. A idéia é a de que a escola seja um espaço para brincadeiras, um local onde a criança exercite o direito de ser criança”, explica Conceição Acioli, coordenadora do projeto. Conceição é uma das mães da escola, com formação em teatro de bonecos e uma das mentoras de série de atividades que ocorrem no
colégio.
A proposta da direção da escola sempre foi clara: preservar a infância e a cultura do País. De que maneira? Mantendo viva a tradição. As festas juninas do Amorim contam com quadrilha e música caipira de raiz. “Aqui não tem Tchan ou popozudas, tomamos cuidado na escolha das músicas, daquilo que transmitimos aos alunos”, diz a diretora. “Outro aspecto importante é fazer com que as mães participem do desenvolvimento de seus filhos, que a mãe assuma o papel de mãe e também o de educadora”, observa Conceição. O segundo passo foi a criação da Cia. das Mães para teatro de bonecos. Elas foram as responsáveis pela confecção dos bonecos e roteiro das histórias apresentadas aos alunos na sala de leitura. Os
textos debatem temas como cooperação entre as pessoas, integração, respeito às diferenças e tópicos presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente. Por meio das peças e brincadeiras, são mostrados conceitos e valores, um campo fértil para o aprendizado. “As crianças estão receptivas e aprendem com mais facilidade, de maneira divertida”, cometa Ana. A idéia cresceu e tomou forma de projeto que foi enviado à Fundação Abrinq. “Mandamos em 1999, o projeto voltou, fizemos ajustes e então passamos a participar do programa Crer para Ver”, conta Ana. O Crer para Ver tem como objetivo apoiar iniciativas e dar meios para a criatividade florescer dentro das escolas públicas. Uma contribuição da fundação à construção da cidadania. “Esticamos a verba que recebemos para o trabalho de um ano, para dois”, afirma a diretora. Atualmente, o projeto conta com apoio do Núcleo de Ação Educativa (NAE) e da Secretaria Municipal de Educação. Na prática – O Amorim Lima transformou-se em Oficina de Cultura Brasileira. Além da Oficina de Brincadeiras, os alunos das 3.ª e 4.ª séries ganharam aulas de dança popular, uma seqüência às brincadeiras de roda dos primeiros anos, acrescida de música ao vivo e movimentos coreográficos ligados às letras das canções. As aulas ocorrem às sextas-feiras, sempre no horário de aula. A coordenação dessa área é feita por Graça Reis e seu filho Téo, do Grupo Cupuaçu. O Cupuaçu é importante representante da cultura nordestina em São Paulo. Localizado no Morro do Querosene, onde os artistas se reúnem para preservar a memória das festas do bumba-meu-boi, o grupo tornou-se um núcleo de resistência e preservação cultural. “Ensinamos uma série de danças regionais como a cacuria, a ciranda, dança do caroço de Tutóia, entre outras. As crianças também têm a oportunidade de conhecer e aprender a tocar instrumentos regionais”, comenta Graça.
Mas não foi fácil vencer o preconceito de alguns pais. “Enfrentamos certa barreira criada por algumas pessoas que não entendem o significado da cultura brasileira. Então, tivemos de explicar claramente para familiares qual era a nossa proposta”, explica Ana.Nessa mesma linha, um jogo que certamente é um dos maiores expoentes da cultura do País: as aulas de capoeira oferecidas por Mestre
Alcides de Lima. A capoeira além de ser uma atividade física, exige muita atenção e disciplina por parte dos participantes, elementos que são assimilados pelos alunos. “Trabalho com a coordenação motora, sociabilidade, auto-estima e também com outras disciplinas, como história e geografia. Posso explicar o ciclo da cana-de-açúcar a partir da história da capoeira, por exemplo”, avalia Mestre Alcides. Para desenvolver a disciplina corporal, incentivar o respeito ao outro e estimular a concentração, os meninos recebem aulas de técnicas circenses fora do horário de aula. A coordenação fica por conta dos profissionais do Circo Nosotros. E, por fim, o músico Marcio Miele introduz aulas de musicalização. A escola já conta com um coral composto por 30 crianças da 1.ª à 3.ª série, que são acompanhadas, nas apresentações, por flauta doce. “Esse projeto pôde ser posto em prática por contarmos com o apoio da comunidade, que se dispôs a colaborar com a direção da escola”, elogia Ana. “Acredito que outras escolas possuem uma vizinhança interessada e talentosa como a nossa, é importante multiplicarmos essa proposta de reflexão e cidadania”, comenta Conceição. Todas essas atividades já fazem parte da vida da Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, que deixou de lado a cara sisuda dos colégios tradicionais para ser um espaço de vivência. “Esse projeto já faz parte do currículo, quem quiser estudar ou trabalhar aqui sabe como funciona a escola e para nós todas essas ações têm sabor de conquista”, orgulha-se Ana.

Karla Dunder

Fonte: Agência Estado