A escola em seu duplo_a aquisição das ferramentas do teatro pela educação para a construção de uma escola democrática

A escola em seu duplo _ a aquisição das ferramentas do teatro pela educação para a construção de uma escola democrática

Dissertação de mestrado de Marcel Iucef Hamed

Unidade Faculdade de Educação (FE)

Área de concentração Educação

Orientador:

  • Mate, Cecilia Hanna

Banca Examinadora:

  • Ghanem Junior, Elie George Guimaraes
  • Mate, Cecilia Hanna
  • Singer, Helena

Data da Defesa: 03/04/2007

Palavras-chave:

  • Didática
  • Escolas democráticas
  • Jogos teatrais
  • Teatro
  • Teorias de ensino

Resumo Original
Este estudo trata de uma discussão teórica e empírica, no campo da didática e prática do ensino: teórica, na medida em que põe em cena determinados autores do teatro e da educação (Edgard Morin, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Bertolt Brecht, Jean-François? Lyotard, Pierre Levy, Michael Foucault, Stuart Hall) com destaque para determinados conceitos que mais se aproximam de uma discussão específica do momento histórico pelo qual passamos atualmente, caracterizado por mudanças sensíveis, velozes e, por vezes, desordenadas. Empírica porque: a) parte dos resultados obtidos por meio da observação da dinâmica em uma escola pública; b) desenvolveu atividades que tiveram como objetivo discutir a possibilidade do teatro – mais especificamente os jogos teatrais; c) concentrou-se nas peças didáticas (lehrstück) de Bertolt Brecht; d) trabalho do teatro contemporâneo – como elemento colaborador na construção de uma escola democrática, nesse caso a EMEF Desembargador Amorim Lima, no bairro do Butantã, São Paulo. Utilizando-me da produção de, principalmente, Bertolt Brecht e Viola Spolin, tratei mais diretamente da incorporação da prática metodológica de alguns pensadores do teatro no âmbito escolar e não da incorporação da teatralização de conteúdos programáticos ou da encenação de peças teatrais. O objetivo foi a utilização da concepção que tais autores possuíam para teatro em um universo escolar e, mais do que isso, a incorporação dessas propostas metodológicas como capazes de elucidar e ampliar a compreensão do conceito de escola democrática pelos alunos e as práticas aí implicadas, realizando um deslocamento da produção do teatro para os fins da educação. Assim, buscou-se proporcionar uma maior compreensão e aceitação do projeto e exercício de democracia nas escolas. Conjuntamente o projeto busca discutir o conceito de escola democrática ou libertária, no qual os educandos são respeitados em suas escolhas para que possam desenvolver essa capacidade no seu próprio ritmo, sendo respeitados em seus interesses; busca quebrar as barreiras das obrigações compulsórias que normalmente se observa em grande parte das escolas (públicas ou privadas); estimular a participação em assembléias escolares (com direito a voto); construir a definição de regras claras (estipuladas em assembléias). Dentre as propostas em construção na EMEF Desembargador Amorim Lima, a do projeto de teatro, com as características apresentadas, foi capaz de dar significado mais amplo ao projeto de uma escola democrática, propiciando ao aluno o entendimento e a participação efetiva nesse modelo escolar.

Título em Inglês: The school and its double – the acquisition of theatrical tools by education for the construction of a democratic scholl.

Palavras-chave em Inglês:

  • Democratic schools
  • Didatics
  • Educational teories
  • Leaning plays
  • Theater

Resumo em Inglês
The present study aims a discussion within didactical and teaching practice fields, both theoretically and empirically. Its theoretical aspects are laid on the fact that it singles out some playwriters and educators (Edgard Morin, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Bertold Brecht, Jean-François? Lyotard, Pierre Levy, Michel Foucault, Stuart Hall) who place emphasys upon certain concepts which contributes to understand the current historical moment, characterized by deep, randomic and swift changes. It is also empirical, having on its base: a) part of results obtained by observing the dynamics inside a public school; b) developed activities that had purpose of discussing the feasibility of learning plays; c) focused in the Bertold Brecht?s didatic dramas and d) worked with a contemporary theather, all considered as a means of colaborating for the construction of a democratic school EMEF Desembargador Amorin Lima located in the district of Butantã, São Paulo. Employing mainly the ideas of Bertold Brecht and Viola Spolin, the incorporation of the methodological pratice of some researchers of the theater inside the educational field has been analysed, instead of the acting of school subjects or plays. The objective was not only the application of the concepts of such authors to the theater inside the school environment, but also to incorporate those methodological proposals in order to elucidate and broaden the concept of democratic school by the students, moving the theatrical production towards educacional purposes. Therefore, it has been sought to provide a better understanding and a larger acceptance of the project and the practice of democracy in schools. At the same time, the project aims to discussing the concept of democratic school, in which students have their decisions and interests respected so that they are able to develop such aptitudes at their own pace. It also attempts to eliminate the obstacles ? so common in both public and private schools estimulating the participation in school assemblies, by voting and setting rules. The theatrical project proposal, as presented above, was, among others under development at EMEF Desembargador Amorin Lima, able to provide a more extensive meaning to the project of a democratic school, offering to the students a more effective comprehension and participation in this type of school.

Para ter acesso à íntegra da dissertação, acesse:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-25042007-110524/

Título em português:
A escola em seu duplo – a aquisição das ferramentas do teatro pela educação para a construção de uma escola democrática.
Palavras-chave em português:
Didática
Escolas democráticas
Jogos teatrais
Teatro
Teorias de ensino
Resumo em português:
Este estudo trata de uma discussão teórica e empírica, no campo da didática e prática do ensino: teórica, na medida em que põe em cena determinados autores do teatro e da educação (Edgard Morin, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Bertolt Brecht, Jean-François Lyotard, Pierre Levy, Michael Foucault, Stuart Hall) com destaque para determinados conceitos que mais se aproximam de uma discussão específica do momento histórico pelo qual passamos atualmente, caracterizado por mudanças sensíveis, velozes e, por vezes, desordenadas. Empírica porque: a) parte dos resultados obtidos por meio da observação da dinâmica em uma escola pública; b) desenvolveu atividades que tiveram como objetivo discutir a possibilidade do teatro – mais especificamente os jogos teatrais; c) concentrou-se nas peças didáticas (lehrstück) de Bertolt Brecht; d) trabalho do teatro contemporâneo – como elemento colaborador na construção de uma escola democrática, nesse caso a EMEF Desembargador Amorim Lima, no bairro do Butantã, São Paulo. Utilizando-me da produção de, principalmente, Bertolt Brecht e Viola Spolin, tratei mais diretamente da incorporação da prática metodológica de alguns pensadores do teatro no âmbito escolar e não da incorporação da teatralização de conteúdos programáticos ou da encenação de peças teatrais. O objetivo foi a utilização da concepção que tais autores possuíam para teatro em um universo escolar e, mais do que isso, a incorporação dessas propostas metodológicas como capazes de elucidar e ampliar a compreensão do conceito de escola democrática pelos alunos e as práticas aí implicadas, realizando um deslocamento da produção do teatro para os fins da educação. Assim, buscou-se proporcionar uma maior compreensão e aceitação do projeto e exercício de democracia nas escolas. Conjuntamente o projeto busca discutir o conceito de escola democrática ou libertária, no qual os educandos são respeitados em suas escolhas para que possam desenvolver essa capacidade no seu próprio ritmo, sendo respeitados em seus interesses; busca quebrar as barreiras das obrigações compulsórias que normalmente se observa em grande parte das escolas (públicas ou privadas); estimular a participação em assembléias escolares (com direito a voto); construir a definição de regras claras (estipuladas em assembléias). Dentre as propostas em construção na EMEF Desembargador Amorim Lima, a do projeto de teatro, com as características apresentadas, foi capaz de dar significado mais amplo ao projeto de uma escola democrática, propiciando ao aluno o entendimento e a participação efetiva nesse modelo escolar.
Título em inglês:
The school and its double – the acquisition of theatrical tools by education for the construction of a democratic scholl.

Palavras-chave em inglês:
Democratic schools
Didatics
Educational teories
Leaning plays
Theater
Resumo em inglês:
The present study aims a discussion within didactical and teaching practice fields, both theoretically and empirically. Its theoretical aspects are laid on the fact that it singles out some playwriters and educators (Edgard Morin, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Bertold Brecht, Jean-François Lyotard, Pierre Levy, Michel Foucault, Stuart Hall) who place emphasys upon certain concepts which contributes to understand the current historical moment, characterized by deep, randomic and swift changes. It is also empirical, having on its base: a) part of results obtained by observing the dynamics inside a public school; b) developed activities that had purpose of discussing the feasibility of learning plays; c) focused in the Bertold Brecht?s didatic dramas and d) worked with a contemporary theather, all considered as a means of colaborating for the construction of a democratic school EMEF Desembargador Amorin Lima located in the district of Butantã, São Paulo. Employing mainly the ideas of Bertold Brecht and Viola Spolin, the incorporation of the methodological pratice of some researchers of the theater inside the educational field has been analysed, instead of the acting of school subjects or plays. The objective was not only the application of the concepts of such authors to the theater inside the school environment, but also to incorporate those methodological proposals in order to elucidate and broaden the concept of democratic school by the students, moving the theatrical production towards educacional purposes. Therefore, it has been sought to provide a better understanding and a larger acceptance of the project and the practice of democracy in schools. At the same time, the project aims to discussing the concept of democratic school, in which students have their decisions and interests respected so that they are able to develop such aptitudes at their own pace. It also attempts to eliminate the obstacles ? so common in both public and private schools estimulating the participation in school assemblies, by voting and setting rules. The theatrical project proposal, as presented above, was, among others under development at EMEF Desembargador Amorin Lima, able to provide a more extensive meaning to the project of a democratic school, offering to the students a more effective comprehension and participation in this type of school.
 

Proposta de Criação de Rede de Escolas Autônomas no Município de São Paulo

Proposta de Criação de Rede de Escolas Autônomas no Município de São Paulo

As sugestões aqui apresentadas foram inicialmente formuladas pelo Grupo de Estudo de Gestão da EMEF Desembargador Amorim Lima, e apresentadas ao Sr. Secretário da Educação do Município, Sr. Alexandre Alves Schneider, em 07 de julho de 2006.
A proposta inicial foi posteriormente discutida e aprimorada por um grupo de educadores das seguintes unidades escolares:
EMEF Pres. Campos Salles
EMEI Gabriel Prestes,
e por pais de alunos da EMEF Prof. Olavo Pezzotti.

1) Considerações Iniciais

Acreditamos que, para o processo de construção da escola de qualidade, são necessários três aspectos, sempre intrincados, mas que podem ser assim resumidos:

a) A comunidade escolar precisa sentir a necessidade de ter uma escola de qualidade. Precisa dar-se conta de que a educação é um bem de valor inestimável – é um direito dos nossos filhos ter acesso a esse bem, e um dever nosso – dos adultos – cuidar para que esse direito seja respeitado. Percebida esta necessidade, a comunidade precisa ascender ao nível de desejar construir a escola de qualidade.

b) A comunidade precisa, daí, formular um projeto – precisa pensar e planejar os meios que poderão transformar o desejo em realidade.

c) A comunidade precisa, tendo formulado o seu projeto, dispor dos meios – materiais e intelectuais – para implementá-lo.

Logicamente os três passos estão sempre indissoluvelmente intrincados, e estão aqui separados de forma apenas ilustrativa. Por exemplo, a comunidade em extrema carência de meios: terá uma dificuldade enorme em superar as premências do cotidiano a ponto de ascender à formulação de um projeto. Ou ainda: não há, logicamente, uma fase estanque de formulação, e outra diversa, de “implementação”, pois que o Projeto vai-se propriamente constituindo no processo de implementação. De todo o modo, do que estamos convictos e o que queremos enfatizar é: as políticas públicas, por mais bem intencionadas que possam ser, têm poder de ação sobre o terceiro ponto e, eventualmente, sobre o segundo (fornecendo uma assessoria na elaboração do projeto, por ex.) – mas são absolutamente ineficazes quanto ao primeiro. No que concerne ao desejo, a história nos mostra que o que o Estado pode, e faz, é reprimí-lo, não despertá-lo.
Nossa hipótese é que a melhor, se não a única forma de sensibilizar uma comunidade da importância da educação de qualidade, é através do contágio. Como se verá a seguir, propomos aqui a formação de uma rede de autonomia – que colabore com a construção de uma escola de qualidade – de crescimento rizomático.

2) A formação da rede de escolas autônomas seria coordenada por uma Comissão formada para tal fim, composta por reconhecidos profissionais da área, a critério da Secretaria Municipal de Educação.
Seriam requisitos para escola pleitear o acesso à Rede de Autonomia:

a) Possuir Conselho de Escola – nos moldes definidos no Estatuto Geral das Escolas Municipais – ativo há pelo menos 1 (um) ano.

b) Haver elaborado Projeto Político Pedagógico em consonância com a legislação em vigor (Leis de Diretrizes e Bases da Educação, Parâmetros Curriculares Nacionais, Estatuto da Criança e do Adolescente, Regimento Geral das Escolas Municipais, etc.). O Projeto Político Pedagógico deverá, partindo da situação real e concreta da escola, propor dispositivos e ações no sentido do aprimoramento de seu ensino, e deverá ter sido discutido e aprovado pelo Conselho de Escola.

c) Haver constituído um Conselho Pedagógico, nos moldes propostos no Regulamento Interno, anexo a este documento.

d) Haver constituído Conselho de Gestão Financeira, nos moldes propostos no referido Regulamento Interno.

e) Constituir Grupo de Incubação. O Grupo de Incubação será formado por 3 educadores, 3 pais voluntários e 3 alunos voluntários. Sua função será explicitada mais abaixo.

A escola que preencha os requisitos acima poderá pleitear seu acesso à Rede de Autonomia. A Comissão Coordenadora acatará, ou não, o acesso.

3) A Escola que ascendeu à Rede de Autonomia terá as seguintes responsabilidades:

a) Apresentar anualmente à Comissão Coordenadora um relatório de avaliação do andamento do Projeto.
b) Apresentar anualmente um Relatório Financeiro, com a comprovação minuciosa dos gastos, aprovado por seu Conselho de Gestão Financeira e seu Conselho Fiscal.
c) Esforçar-se, através do Grupo de Incubação, com o crescimento rizomático da Rede de Escolas Autônomas.

4) A Rede de Incubação: Qualquer membro da comunidade de uma escola que não preencha os requisitos de acesso à Rede de Autonomia (aluno, pai, professor) poderá solicitar, à Coordenadoria de Educação de sua região, o acesso de sua escola à Rede de Incubação. A Coordenadoria de Educação definirá uma escola já pertencente à Rede de Escolas Autônomas como incubadora: essa escola deverá, através principalmente do Grupo de Incubação, mas também através do esforço de toda a sua comunidade, trabalhar para sensibilizar a escola ainda desorganizada a conseguir, no menor tempo possível, preencher os requisitos para o acesso à Rede de Autonomia. A escola pertencente à rede de autonomia deverá envidar seus melhores esforços no sentido de sensibilizar a escola em regime de acesso: a) quanto à importância da construção da escola de qualidade, e quanto à possibilidade real de a construir; b) quanto à importância da consolidação dos mecanismos democráticos de participação – principalmente o Conselho de Escola; c) quanto aos benefícios da formalização de um Projeto Político Pedagógico que contemple os anseios da comunidade. A escola já pertencente à Rede deve, pois, aproximar o desejo da construção da qualidade a um horizonte tangível, real. Dentre os itens a serem periodicamente avaliados pelo Grupo de Coordenação, na decisão da permanência, ou não, de qualquer escola na Rede de Escolas Autônomas, terá papel relevante o desempenho que a mesma venha obtendo no seu esforço de incubação. Será exigido, da comunidade da escola que se julga merecedora de autonomia, um nível de organização e de participação não só suficientes à organização da própria escola, mas que, lhe sobejando, possam contagiar uma outra comunidade – preferencialmente a cada ano.

5) A escola pertencente à Rede de Escolas Autônomas terá, do ponto de vista da gestão, as seguintes características:

a) Regime Especial de Acomodação de Cargos. Caberá ao Conselho Pedagógico, referendado pelo Conselho de Escola, selecionar – de forma clara e transparente – os profissionais que irão atuar na escola (inclusive professores), dentre os já pertencentes à Rede Municipal de Ensino, através dos critérios que julgar adequados.

b) Regime Especial de Gestão de Recursos Financeiros. A escola deverá apresentar, anualmente, um orçamento para o exercício vindouro, com previsão e justificativa de gastos (modelo anexo), bem como com índice de prioridade de cada despesa (de zero, o mais elevado, a 4, o menos elevado), conforme mais bem explicitado na proposta de Regulamento Interno anexa. A Comissão Coordenadora julgará a relevância das despesas, e disponibilizará o recurso financeiro suficiente para cobrir total ou parcialmente o orçamento. Sendo, o recurso disponibilizado, menor que o pleiteado, deverão, na efetivação dos gastos, ser respeitados os índices de prioridade determinados no orçamento.

c) Os profissionais lotados em escola pertencente à Rede de Escolas Autônomas terão, pois, responsabilidades formativas – uma vez que irão colaborar no esforço de crescimento rizomático da Rede, e no aprimoramento da qualidade de ensino nas escolas em regime de incubação. Receberão, por isso, gratificação financeira não estável e não incorporável ao salário – ou seja, deixarão de recebê-la se, e tão logo, passem a exercer função em escola não pertencente à rede de autonomia.

Caberá à SME criar dispositivos que auxiliem as escolas pertencentes à Rede de Autonomia no seu esforço de expansão da rede. Poderá ser criada, por exemplo, uma publicação regular, em que as escolas da rede relatem suas experiências, suas dificuldades maiores, as formas encontradas para superá-las – e essa publicação ser distribuída a todas as escolas do município. Poderá ser favorecida a troca de experiências entre as escolas da rede através de encontros e apresentação de trabalhos.

Uma Escola Diferente.

 

Uma escola diferente

A escola pública de São Paulo que se inspirou no projeto da portuguesa Escola da Ponte conta como as mudanças afetaram o seu dia-a-dia

Cristiane Rogerio
Fotos Paula Perim

As paredes foram derrubadas e quatro salas se tornaram uma

Não há salas de aula, turmas ou séries. O conteúdo e a ordem de estudo são decididos pelos alunos, sob a orientação dos educadores. Esse lugar existe? Sim. Há 30 anos em Portugal, na chamada Escola da Ponte. Idealizada pelo educador José Pacheco, a nova forma de educar nasceu para dar às crianças mais sabor ao aprender. No Brasil, a Escola Municipal Desembargador Amorim Lima constrói uma versão brasileira, inspirada no projeto português. Localizada no Butantã, bairro da Zona Oeste de São Paulo, ela – a escola mesmo – conta como vem assistindo à revolução em seus muros.

Para ter acesso à matéria integral copie e cole o endereço abaixo:

,http://revistacrescer.globo.com/Crescer/0,19125,EFC1047381-2216,00.html

Projeto leva tradição oral e dança a escolas públicas.

Cultura popular é utilizada por educadores no ensino de crianças e jovens

José Maria Mayrink

De Lençóis (BA), onde nasceu como ponto de cultura de educação e tradição oral, a pedagogia do Grão de Luz e Griô espalha-se. Cinco anos após seu reconhecimento pelo Ministério da Cultura, que destina R$ 2,8 milhões por ano à rede para formar educadores, o programa mantém 130 projetos, cada um com quatro mestres e um bolsista.
A figura do griô – um velho que costuma percorrer aldeias para transmitir a tradição de seus ancestrais às novas gerações – nasceu no Mali (África). “São pelo menos 650 bolsistas e mestres que se guiam pelo conceito griô, que não é a gente, mas a comunidade que define”, comemora Márcio Caires, o Velho Griô, que em 1999 começou a percorrer a Bahia com seu violão, cantando e repetindo histórias que aprendeu com moradores da região. Lilian Pacheco, sua mulher, construiu a pedagogia griô para juntar teoria e prática nas escolas, que seria ensinar por meio da tradição oral aliada a dança e música.
Europeus se entusiasmaram com a experiência e financiaram o Grão de Luz e Griô. Um grupo espanhol que trabalha com a tradição galega manda R$ 50 mil por ano e amigos de Genebra, na Suíça, contribuem com R$ 64 mil. Essa parceria já existia em 2003, quando o projeto ganhou o Prêmio Itaú-Unicef?, destinado a entidades dedicadas à pesquisa para melhorar o ensino regular.
Caires segue em Lençóis, mas percorre Estados para animar novos projetos. “Nosso trabalho é no meio rural, mas pode ser transportado para as cidades”, diz. Formado em Administração, abandonou a área para se tornar o cantador de chapéu grande e paletó enfeitado de fitas que encanta as crianças.
Colégios como o Pedro II, no Rio, e escolas como a Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, inscreveram pontos de cultura na Rede Ação Griô Nacional, para somar a pedagogia da tradição oral a métodos formais de ensino. A Escola de Comunicações e Artes, da USP, também aderiu ao projeto, por iniciativa do professor Sérgio Bairon Blanco de Sant?Ana, que aplica a pedagogia griô com seis mestres de cultura popular de Jequitibá (MG). Os bolsistas recebem por mês R$ 380 do MinC. A bolsa tem de ser renovada todo ano, mas pode se tornar permanente se for aprovada a Lei Griô Nacional, cuja minuta uma comissão de mestres e aprendizes discute em Salvador.

Fonte:O estado de São Paulo

História da Escola

Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são
pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode
levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre
têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque
a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados.
O que elas amam são os pássaros em vôo.
Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque
o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser
ensinado. Só pode ser encorajado.

Rubem Alves

HISTÓRIA

Assim tudo começou…

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima surgiu de uma escola isolada, a primeira Escola Isolada da Vila Indiana, situada na Rua Corinto, s/nº, em São Paulo, tendo como sua organizadora e dirigente a professora Yolanda Limongelle, nomeada pela Portaria publicada em D.O.M. (Diário Oficial do Município) de 19/11/1956, tendo iniciado exercício no dia 20/11/1956.

Pelo Decreto nº 4.570, de 18 de janeiro de 1960, são criadas e instaladas outras classes, passando à categoria de Escolas Reunidas de Vila Indiana, Pelo Decreto nº 7.440, de 10 de abril de 1968, passou a denominação de Escola Agrupada Municipal de Vila Indiana, com 14 classes.

A partir de 15 de março de 1968, a escola passou a funcionar em prédio próprio, de alvenaria, à Rua 5, s/nº, atualmente denominada Rua Professor Vicente Peixoto, s/nº.

Pelo Decreto nº 8.984, de 27 de março de 1969, passou a denominar-se Escola de Primeiro Grau “Desembargador Amorim Lima”.

Essa última denominação foi mantida até 31 de dezembro de 1998, a partir de 1999, com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996, Lei nº 9.394, passou a denominar-se Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima. Quando obteve seu próprio regimento escolar nos termos da referida lei, da indicação do Conselho Municipal de Educação nº 04/97 e da Portaria da Secretaria Municipal de Educação nº 1.971/98, o qual foi aprovado pela Portaria nº 001/99 publicada em D.O.M. do dia 02 de fevereiro de 1999.

Escola Heterogênea

A área em que o projeto se insere é compreendida pelo distrito do Butantã, situado na região oeste do município de São Paulo. Sua área é de 12,5 km2, na qual se encontra uma população estimada em 50.737 habitantes, no ano de 2004, numa densidade demográfica de 4.058,96 habitantes por km2. De acordo com informações obtidas na subprefeitura local, a atividade econômica da área em que está situado o distrito do Butantã é concentrada no setor de serviços, com 61% da população economicamente ativa. A área do distrito é bastante heterogênea, do ponto de vista sócio-econômico, abrigando, de acordo com o Censo Demográfico de 2000, além dos 16.388 domicílios permanentes regulares, também 31 domicílios improvisados e 432 domicílios coletivos, que se distribuem entre vários pontos do mesmo. Examinados os dados relativos aos rendimentos das pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, levantados no referido Censo, observa-se uma concentração na faixa de renda maior que dez salários mínimos, o que se explicaria pela grande presença de docentes da Universidade de São Paulo (USP), localizada no distrito. Há, porém, um contingente de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares de cerca de 20%, que recebem rendimentos de até três salários mínimos e 6,16% delas, sem nenhum rendimento. A clientela da EMEF Amorim Lima, que alcança 19,6% da população situada na faixa etária entre 7 e 14 anos (4.294 habitantes, segundo projeção para 1.o de julho de 2004, da Fundação SEADE), reflete essa heterogeneidade sócio-econômica, pois tem, em seu corpo discente, alunos de todas as classes sociais, com predomínio dos que são membros de famílias de menor nível de renda. Do ponto de vista da formação solidária, essa heterogeneidade é altamente enriquecedora, conforme se observa na experiência da própria escola: alunos oriundos de famílias de renda muito diferenciada entre si estabelecem vínculos de amizade que favorecem a troca de experiências de vida.

A área dispõe de espaços científico-culturais importantes, como a Universidade de São Paulo e o Instituto Butantan, com os quais a EMEF Amorim Lima mantém relações de cooperação, seja no âmbito didático strictu sensu _ apoio das faculdades de Educação, Geociências, Estação Ciência e Psicologia da USP para as atividades de ensino – , seja no âmbito cultural, através de visitas e utilização pelos alunos das instalações culturais.


História do Desembargador Amorim Lima

Alexandre Delfino de Amorim Lima era filho de José de Amorim Lima (tenente-coronel) e Georgina Delfino de Amorim Lima. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1896.
Neto do poeta Luiz Delfino, Amorim Lima veio para São Paulo aos 8 anos. Iniciou seus estudos no antigo Colégio João de Deus, ingressando mais tarde no Instituto de Ciências e Letras. Após o secundário, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, colando grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1917. Serviu como delegado de polícia a partir de 1919, nos municípios paulistas de Batatais, Itatiba, Socorro, Ipaussú e Cerqueira César.
Em maio de 1923, ingressou na magistratura, iniciando-se como juiz de direito substituto do então Distrito Judicial com sede em Palmeira.
Em 1926, foi nomeado juiz titular da Comarca de Ubatuba; em 1927, removeu-se para Areias; em 1928, foi promovido à juiz de direito de Pirajuí; em 1933, foi promovido para a Comarca de Itápolis, onde permaneceu até 1935.
Passou a juiz da 7ª Vara Cível na Capital (S.P.) em 1935, de onde foi guindado para o Tribunal de Apelação. Durante o estado de sítio serviu como juiz comissionado para a inquirição dos presos políticos, nos termos da Constituição Federal de 16 de julho de 1934. Com o aparecimento do novo Código de Processo Civil, fez parte do grupo de juízes que publicou uma série de comentários a esse importante estatuto legal, encarregando-se dos primeiros 22 títulos do Livro IV.
Foi promovido a desembargador em 1941, ingressou na Segunda Câmara Criminal. No Tribunal de Justiça, emprestou brilho excepcional aos julgamentos por 24 anos. Ali foi também corregedor geral de junho de 1943 a dezembro de 1947.
De 1942 a 1943, atuou na 1ª Conferência de Desembargadores, quando se discutia o novo Código Penal da República, e, em 1942, participou do Primeiro Congresso Nacional do Ministério Público, em São Paulo.
Foi eleito presidente da Corte de Justiça de São Paulo, para um biênio, 55/56, após o qual passou a integrar a primeira Câmara Criminal.
Amorim Lima foi pregador notável da ordem jurídica e da soberania da lei, na disputa dos direitos. Na Magistratura Civil e Penal, com a eloqüência que difundia os seus votos que eram um primor de profundeza jurídica e elegância de forma, elevou seu prestígio a mais alta admiração, inscrevendo o seu nome dentre os maiores juízes de todos os tempos.
Aos ditames da lei penal, jamais faltou o seu coração, para que a justiça não fosse insensível ao grande drama da humanidade. Em sua carreira de juiz, deixou a lição magistral de seus excepcionais dotes, para a função que tanto dignificou.
Assim, de Amorim Lima, pode-se afirmar que foi um jurista emérito, que, além das eruditas lições contidas em suas sentenças, votos e acórdãos, enriqueceu as letras jurídicas do País com vários trabalhos doutrinários, que bem revelam seus magníficos dotes intelectuais.
Foi casado com Anna Cândida Rocha de Amorim Lima. Faleceu no dia 12 de janeiro de 1966.

Projeto Pedagógico

I – Dos primórdios do Projeto

Da derrubada das grades à derrubada das paredes

A hoje denominada EMEF Desembargador Amorim Lima nasceu em 1956 como 1a. Escola Isolada de Vila Indiana. Começou a ocupar o endereço atual em 1968. Em 1969 passou a chamar-se Escola de 1o. Grau Desembargador Amorim Lima e, com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1999, recebeu a denominação atual.

Situada em bairro de alta heterogeneidade social e cultural, próxima a pólos científico-culturais da importância da Universidade de São Paulo, de áreas mais pobres de seu entorno e de pólos de importantes manifestações culturais, como o Morro do Querosene, a Amorim Lima teve, ao longo dos anos, o privilégio de receber também uma clientela heterogênea e múltipla.

Se essas características fizeram da Amorim Lima uma escola desde há muitos anos diferenciada, com uma comunidade ativa e participativa, foi a partir de 1996, com a chegada de Ana Elisa Siqueira como diretora que a escola passou a viver suas transformações mais profundas.

Preocupada com a alta evasão _ e ciente do triste fim que vinham a ter os alunos evadidos visto que, para muitos, era a escola o único vínculo social concreto _ o primeiro esforço da nova diretoria foi no sentido de manter os alunos na escola, durante o maior tempo possível. Foi o tempo de derrubar os alambrados que cerceavam a circulação no pátio, num voto de respeito e confiança, de abrir a escola nos fins de semana, de melhorar os espaços tornando-os agradáveis e voltados à convivência. De abrir, enfim, a escola à comunidade.

A sala da diretoria deixou de ser o panóptico de uma instituição totalizante, a ameaça ao aluno desviante, para, sempre de portas abertas, ser o epicentro de uma transformação radical. Alunos de séries mais avançadas começaram a freqüentar e viver a escola fora de seus horários de aula, como monitores em atividades várias. Com apoio e o engajamento crescente dos pais e mães de alunos e da comunidade, a escola passou a oferecer atividades extracurriculares. Instalaram-se Oficinas de Cultura Brasileira, de Capoeira, de Educação Ambiental, de Teatro. A maior participação dos pais e mães passou a se refletir na organização das festas (Festa Junina, Festa da Cultura Brasileira, em agosto, Festa do Auto de Natal, com a colaboração de Conceição Acioli e Lydia Hortélio), na criação do Grupo de Teatro de Mães, no trabalho voluntário. O Instituto Pichón-Riviere? e o Instituto Veredas foram convidados a fazer intervenções na escola. Conseguiu-se apoio financeiro externo para uma série de atividades _ primeiro do Projeto Crer para Ver, da Fundação Abrinq, por dois anos, e depois da Fundação Camargo Correia.

Em 2002, o Conselho de Escola, fortemente constituído, começou a discutir meios de melhorar o nível de aprendizado e de convivência na escola. No sentido de melhor diagnosticar a situação real, e de tratar as questões de forma mais objetiva, foi realizada uma reunião em 11/06/02, com a presença de 52 pais e 21 professores, quando se instituiu uma Comissão com o objetivo de levantar e analisar os seguintes dados:

  • número de alunos, com sexo e idade, por sala;
  • número de alunos com conceito NS (não satisfatório) em português e matemática para as 1as. a 4as. séries, e em qualquer matéria para as 5as. a 8as. séries;
  • alunos com mais do que 20% de faltas no semestre;
  • número de aulas que os alunos efetivamente tiveram;
  • número de aulas previstas e aulas dispensadas ou dadas por outro professor.

Foram diagnosticados como problemas centrais: indisciplina e alto índice de falta de alguns alunos e aulas vagas devido à elevada ausência de alguns professores. Ainda que localizada, e concentrada em algumas disciplinas (o levantamento nas 5as. a 8as. séries indica, nos primeiros meses de 2002, ausência superior a 50% nas aulas de matemática em 5 das 11 turmas), a ausência de professor assumiu, no diagnóstico da comissão, lugar central, pois se entendeu que as outras questões _ indisciplina e falta dos alunos _ estariam a ela associadas.

No decorrer de 2002 a comissão foi acolhendo e encaminhando propostas, no sentido de resolver os problemas levantados. Relatório da comissão de dezembro de 2002 avaliou como tendo havido progresso em alguns pontos _ atendimento de pedido da escola para alocação de 2 professores eventuais pela manhã e 2 à tarde, por exemplo _ mas sendo outros de difícil solução.

No inicio de 2003 a Comissão e o Conselho de Escola, examinando o texto do Projeto Político Pedagógico preparado para o período letivo que se iniciava, entendeu que havia grande dissonância entre o texto e a prática cotidiana na escola. Não tendo, todavia, os instrumentos teóricos que lhes permitissem aprofundar a análise da prática educativa em cotejo com o proposto no Projeto, no intuito de sugerir e cobrar mudanças que implicassem numa efetiva melhora das condições de ensino, em agosto de 2003 o Conselho convidou a psicóloga Rosely Sayão _ interlocutora da escola desde 2001 _ a formular, com eles, esses critérios de análise. No decorrer desta interlocução, a psicóloga Rosely Sayão apresenta-lhes um vídeo sobre a Escola da Ponte, de Portugal, que causa grande impacto nos membros do Conselho: de imediato é percebida a grande semelhança entre os valores que os animavam e aqueles que o vídeo sobre o cotidiano na Escola da Ponte faziam transparecer. É vislumbrada como possível a adequação da prática aos valores propostos no Projeto Político Pedagógico da escola.

Tendo recém visitado a Escola da Ponte, e notando o entusiasmo da comunidade da Amorim Lima pelo Projeto Fazer a Ponte (consulte www.eb1-ponte-n1.rcts.pt ), a psicóloga Rosely Sayão, a pedido do Conselho de Escola, formulou e apresentou, em setembro de 2003, uma proposta de assessoria, no sentido de se ir implantando, na Amorim Lima, dispositivos inspirados naqueles da escola portuguesa.

Respaldados no trabalho já feito e no compromisso com a melhoria da escola já evidenciado nos anos anteriores, o Conselho de Escola e a Direção apresentaram, no final de 2003, à Secretaria Municipal de Educação essa proposta de transformação, formalizada no pedido de aprovação da assessoria externa.

A assessoria foi aprovada pela SME, e realizou-se na escola de janeiro de 2004 a maio de 2005.

A história e o percurso acima descritos, o trabalho da direção, professores comprometidos e demais educadores e funcionários administrativos, os arte-educadores convidados e voluntários, os pais, mães, a comunidade, os alunos, a assessoria externa e as demais forças que ajudaram a construir o que é hoje a escola são, pois, os responsáveis pela elaboração dos parâmetros que, consubstanciados no Projeto Pedagógico a seguir formalizado, e após a apreciação e aprovação pelo Conselho de Escola, deverão reger e iluminar, doravante, o funcionamento da EMEF Desembargador Amorim Lima.

II _ Dos valores que fundamentam o projeto

Ascendermos todos _ alunos, educadores, pais e comunidade _ a graus cada vez mais elevados de elaboração cultural e a níveis cada vez mais elevados de autonomia moral e intelectual, num ambiente de respeito e solidariedade, é o objetivo que fundamenta o Projeto EMEF Desembargador Amorim Lima.

Para tanto, a prática diária deve apontar:

  • Para a elevação do grau de compromisso com a realização deste Projeto, por parte de todos os segmentos da escola, nos limites de suas atribuições definidos no Regulamento Interno que o integra e dele é parte.
  • Diferentemente daquela escola em que cabe ao professor ensinar, e ao aluno aprender, esse Projeto visa um compromisso coletivo em que todos os seus agentes se engajem sempre mais num processo de aprimoramento cultural e pessoal de todos, de forma integral, e na construção de uma intencionalidade educativa clara, compartilhada e assumida por todos.
  • Esta intencionalidade educativa, calcada nos valores da autonomia, solidariedade, democraticidade e responsabilidade deve ditar o funcionamento organizacional e relacional da escola, preservando e reforçando o papel do professor e dos educadores, e tendo o Conselho Pedagógico como responsável direto pela formulação e implantação das práticas pedagógicas que a sustentarão _ sempre em consonância com o Projeto Pedagógico aprovado pelo Conselho de Escola. Reconhece-se, no escopo desse Projeto, o papel de educadores à totalidade dos trabalhadores e trabalhadoras da escola, no âmbito de suas funções específicas.
  • Sendo que uma tal intencionalidade educativa, apoiada nos valores da solidariedade e da democraticidade, só se realiza e produz sentido se fortemente apoiada pela totalidade dos agentes envolvidos, deve-se buscar, sempre mais, a participação e o apoio dos pais e da comunidade na vida da escola, preservadas as atribuições elencadas neste Projeto e melhor formuladas no Regulamento Interno, que regerá sua correta aplicação. Reconhece-se a importância do trabalho dos diversos agentes implicados na melhoria da EMEF Desembargador Amorim Lima ligados não formalmente a ela, seja na forma de voluntariado, seja sob a forma de apoio institucional e financeiro.
  • Para a elevação dos graus de autonomia de todos os envolvidos neste Projeto: e1) do ponto de vista da autonomia intelectual, outorgando sempre mais ao aluno o domínio sobre os processos e meios de aprendizagem, auxiliando-o a encontrar e desenvolver os meios que lhe possibilitem construir e viver um percurso intelectual próprio; e2) do ponto de vista da autonomia moral, devem ser sempre aprimorados os mecanismos que favoreçam e estimulem, por parte dos alunos, a assunção de mais responsabilidades no sentido do melhor funcionamento da escola e da mais eficaz implantação deste Projeto, visto que a mesma só se dá frente a um coletivo no qual se inscreve e na medida em que também se assuma e respeite as diretrizes e os projetos traçados por este mesmo coletivo.
  • Se antes cabia ao professor formar-se individualmente para dar conta de uma docência expositiva e solitária, numa relação dual com os alunos, o funcionamento deste Projeto passa a exigir: f1) uma prática compartilhada e solidária, visto que o professor não trabalha mais intra-muros, solitariamente e com uma turma específica; f2) uma formação diversificada e múltipla, no sentido de poder acompanhar e incentivar a transversalidade curricular pretendida, sem contudo abrir mão de seu conhecimento mais aprofundado em uma área específica; f3) a mudança de foco na relação com os alunos, visto que a exposição de conteúdos passa a dar lugar ao incentivo constante à pesquisa, à orientação quanto o melhor uso dos Roteiros Temáticos, à solução das dúvidas que nascem dos mais diversos e inesperados lugares; f4) o descentramento do papel do professor como detentor de saber para um papel de colaborador na construção de saber, visto que lhe cabe, neste novo funcionamento, mais orientar que explicar, mais pesquisar que ensinar. Sendo, pois, variadas e profundas as demandas que a implantação deste Projeto dirige aos professores, devem os agentes todos que dão suporte à sua implantação comprometer-se no esforço de propiciar, aos educadores de forma geral, e aos professores especificamente, uma formação continuada de qualidade, voltada à sua prática diária e às suas questões mais prementes.
  • Uma atitude de respeito para com as diferenças culturais, raciais, de credo e quaisquer outras, de todos e para com todos. A convicção de que cada aluno é único, pode e deve permanentemente construir e exercer sua identidade no seio de um coletivo que não a mitigue ou aplaque. A convicção de que toda a criança é capaz de aprender e desenvolver-se, em ritmo e forma próprios, sendo-lhe dadas as condições para que o faça.
  • A compreensão do ser humano como ser integral. A convicção de que toda a aprendizagem significativa do mundo é também conhecimento e desenvolvimento de si, numa dialética que equipara a elaboração intelectual à elaboração pessoal e psíquica (Pichón-Riviere).
  • Pautando-se num critério de democraticidade e transparência cada vez mais elevados, deverão as diversas forças que compõem este Projeto, em seus diversos âmbitos, comprometer-se a um esforço constante de esclarecimento de suas ações e atitudes, frente ao coletivo da escola. Sendo este um projeto educacional coletivo, caberá aos diversos segmentos que o compõem a tarefa de manifestarem suas convicções e justificarem suas ações de forma clara e coerente, logicamente sustentadas. Os diferentes lugares de poder que tomam os detentores de diferentes saberes e diferentes fazeres, no escopo deste Projeto e salvaguardados em seu Regulamento, não devem servir de pretexto à atitude autoritária, arrogante, isolada, por parte de nenhum de seus membros. Os canais de diálogo e de divulgação, no âmbito dos diversos segmentos do Projeto, serão melhor explicitados no seu Regulamento Interno.

III _ Das bases conceituais do Projeto, da aprendizagem e do currículo.

O Projeto Pedagógico EMEF Desembargador Amorim Lima é um projeto único, nascido do esforço de uma comunidade específica e voltado a suprir as demandas e anseios desta comunidade. Para tanto, está construindo estratégias, encontrando soluções e criando os dispositivos pedagógicos que julga melhor se adequarem ao universo de seus alunos e educadores, no sentido de alcançar seus objetivos de forma plena e eficaz. É, portanto, um projeto que em tudo se apóia e em tudo coerente com o propugnado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB).

As grandes linhas pedagógicas do Projeto são absolutamente consonantes com aquelas que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) indicam como objetivo a se esperar dos alunos do ensino fundamental, e cuja importância justifica reiterar:

  • compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
  • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;
  • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
  • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;
  • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;
  • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;
  • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
  • utilizar as diferentes linguagens _ verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal _ como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
  • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
  • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

No esforço de adequação e observância aos fundamentos aqui relatados, o Projeto propugna uma série de transformações dos dispositivos pedagógicos anteriormente praticados na escola. Estas transformações, já implantadas, em fase de implantação e em fase de projeto, podem ser assim definidas:

  • No sentido de aumentar a implicação dos alunos no processo de aprendizagem, melhor favorecer o desenvolvimento de seus graus de autonomia e ainda, no sentido de melhor adequar o currículo objetivo aos ritmos e predisposições individuais, o Projeto privilegia o trabalho de pesquisa. A aula expositiva deixa de ser o instrumento preferencial de transmissão e aquisição de saber, passando a ser um recurso utilizado pontualmente: 1) seja nos momentos em que o grau de autonomia não permita, ainda, a vinculação a um projeto de pesquisa; 2) seja nos momentos em que os educadores entendam que uma explanação possibilite um avanço no processo, esgotados todos os outros recursos; e 3) seja, finalmente, nas ocasiões em que características momentâneas do Projeto em implantação não permitam adequar a prática pedagógica aos princípios que a fundamentam.
  • O trabalho de pesquisa é norteado por Roteiros Temáticos de Pesquisa, concebidos segundo a Teoria dialógica da linguagem do Círculo de Bakhtin, e apoiado nos livros didáticos e paradidáticos, num contexto predominantemente grupal. Apesar de usar tais livros de forma particular e não seqüencial, privilegiando uma transversalidade temática, e apesar de não se restringir a eles, o Projeto reconhece o Programa Nacional do Livro Didático como uma outra sua importante base prática e conceitual, além da sustentação em uma Política Pública Federal.
  • De implementação gradativa a partir de 2004, e abrangendo a totalidade dos alunos desde o início de 2006, o dispositivo extingue as três classes de cada série, dividindo os alunos em 21 grupos de 5 membros cada.
  • Além do acompanhamento grupal e individual em sala, são os alunos acompanhados mais de perto por um tutor que, ao ater-se a um grupo menor de alunos, preferencialmente durante todo o período de formação escolar, pode orientá-los com olhar mais atento e agudo, indicando e corrigindo rumos. Sendo a busca da autonomia um valor matricial do Projeto, e somente podendo ela fundar-se numa cada vez mais aprofundada auto-avaliação, caberá ao espaço da tutoria auxiliar os professores a implantar e fomentar a auto-avaliação, numa gradual tomada de consciência, por parte dos alunos, de suas capacidades e de suas dificuldades.
  • Dados os fundamentos aqui apresentados, é pretensão do Projeto oferecer, além de uma adequada formação intelectual e cognitiva, um aprimoramento artístico, físico, estético, enfim voltado às mais diversas formas de manifestação expressiva do ser humano, num clima de valorização do amadurecimento das relações interpessoais sem a banalização dos afetos. O trabalho dos arte-educadores assume, pois, lugar de grande importância, devendo as diversas forças que compõem o coletivo esforçar-se por viabilizar, segundo critérios do Conselho Pedagógico, a sua sustentada e permanente presença na escola _ seja empenhando-se em incluí-los no escopo do quadro funcional estável, seja buscando os recursos que possibilitem a manutenção de um contrato autônomo.
  • É reconhecida e valorizada, no âmbito deste Projeto, a importância das novas tecnologias no que concerne ao acesso e à construção do conhecimento. A utilização de tais ferramentas tecnológicas _ notadamente a informática _ deve pois sempre mais se integrar ao trabalho diário de pesquisa e produção em sala de aula.
  • A EMEF Desembargador Amorim Lima possui importante acervo de mais de 18.000 volumes. Reformada, e em processo de completa informatização, a sala de leitura transformou-se em biblioteca circulante, expandindo o acesso a seu acervo à toda a comunidade.

Além do já citado, são bases conceituais do projeto, entre outras:

1) As contribuições de Jean Piaget quanto à formação dos conhecimentos e quanto às autonomias moral e intelectual;

2) A imensa contribuição do grande educador Paulo Freire _ em primeiro lugar como fonte de referência de toda a pedagogia que se pretenda libertária; em segundo por ter contribuído fortemente na criação dos avançados parâmetros normativos da educação brasileira atual _ sem os quais seguramente este Projeto teria muitas mais dificuldades em ser implantado; e

3) Cabe ressaltar a importância, para a existência deste Projeto, daquele outro implantado na pequena Vila das Aves, em Portugal, sob o nome Fazer a Ponte. Além de nos mostrar que “a utopia é possível”, como bem o disse o professor José Pacheco, a Escola da Ponte é uma fonte permanente de inspiração e reflexão, pois que soube, em seus quase 30 anos, ir criando mecanismos e dispositivos pedagógicos coerentes com seus valores e princípios _ e que são os mesmos que nos animam. Sabemos bem que uma coisa é ter princípios, outra bem diversa é aplicá-los. Nesse sentido a Ponte, em sua generosa proposição de fazer públicos sua história, seu trajeto, suas dificuldades e seu estágio atual, é fonte importantíssima de consulta e interlocução.

Aprovado na Reunião Extraordinária do Conselho de Escola de 10 de agosto de 2005, com modificações posteriores.

Carta de Princípios

Carta de Princípios de Convivência

Todos merecemos ser tratados com respeito

 

  • Todos devem saber ouvir e saber falar.
  • Todos devem levantar a mão para pedir a palavra.
  • Ninguém deve sofrer ameaças.
  • Ninguém deve receber apelidos desrespeitosos.
  • Ninguém deve ser xingado ou ofendido.

Todos temos direito a uma escola tranqüila, limpa e organizada

 

  • Todos devem cuidar das plantas e do jardim.
  • Todos devem se esforçar para manter os banheiros limpos.
  • Todos devem jogar o lixo nos cestos.
  • Ninguém deve correr nos corredores.
  • Ninguém deve pular os muros da escola.
  • Todos devem ter calma, para que não haja brigas.
  • Não devemos pichar ou rabiscar as paredes e muros.
  • Na escola não devemos falar palavrões.

Todos temos que levar a escola a sério

 

  • Ninguém deve cabular as aulas.
  • Os horários devem ser respeitados por todos.
  • Todos devem vir à escola com roupas adequadas.
  • Não devemos mascar chicletes nas aulas.
  • Não devemos fumar na escola.

Todos temos direito a materiais de estudo e livros limpos e bem conservados

 

  • Não devemos rabiscar as carteiras.
  • Devemos cuidar dos livros e dos outros materiais de uso coletivo, não rabiscando ou rasgando.
  • Devemos respeitar os materiais dos outros, não roubando ou mexendo em mochilas sem autorização.
  • Só devemos trazer para a escola os materiais que vamos usar para estudar e dos quais poderemos cuidar. Não devemos trazer MP3, e celular só se for muito necessário.
  • Devemos ser solidários e emprestar nossos materiais, que devem ser bem cuidados e devolvidos após o uso.

Todos temos direito a fazer as refeições em local limpo e tranqüilo

 

  • Devemos nos servir somente da quantidade que pretendemos comer, para não desperdiçar comida.
  • Não devemos brincar com a comida, nem jogá-la no chão ou nos outros.
  • Todos devem respeitar a fila para pegar os pratos.
  • Não devemos comer em locais inadequados.

Todos temos direito a uma escola que funcione organizadamente

 

  • Os horários das atividades devem ser definidos e respeitados.
  • Todos os roteiros e trabalhos dos alunos devem ser corrigidos.
  • O número de educadores deve ser suficiente.

Arte com Ciência

Sobre o primeiro semestre de 2007

Iniciamos o semestre com um desafio: que outras vidas existiriam na escola?
Depois de um passeio em grupo por todo o espaço externo da escola, fizemos a nossa primeira coleta.

Com essa ação, muito simples, iniciamos a construção do “olhar pesquisador”. Ao estimularmos a observação, em detalhe, com cuidado, estamos introduzindo uma nova “maneira de olhar” o mundo, essa qualidade essencial na formação de um futuro pesquisador.

O passo seguinte… olhar mais de perto, através de microscópios, das lupas, das lentes de aumento.
O passo essencial: documentar o que foi observado, detalhar, desenhar.

O desenho, “a Arte”, surge como um “instrumento” importante no processo de apreensão do conhecimento. O desenho é a representação/documentação do que foi pesquisado com os olhos, com o tato, com o olfato, com todos os sentidos em alerta.

O estímulo constante a essa “curiosidade alegre” em relação às pequenas coisas, aos acontecimentos, ao cotidiano , sensibiliza nosso futuro pesquisador a uma atitude investigativa, enriquecendo e desmistificando a capacidade de se expressar através da Arte, pois compreendemos que a Beleza surge como consequência do adensamento dos conteúdos trabalhados, pois reflete uma qualificação de repertório real sobre o objeto em questão.

E, sempre com esses conceitos presentes, demos prosseguimento ao nosso percurso: após o estudo dos insetos e animais pequenos, passamos para os animais vertebrados, com esqueleto. Através de um empréstimo de esqueletos e animais taxidermizados da Faculdade de Medicina Veterinária da Usp, pudemos observar as diferentes formas e especializações em esqueletos de ave (pingüim), de mamíferos, voadores e quadrúpedes (o morcego , o cão e o gato) , sentir a textura do couro da cobra, passar a mão no pelo da cotia.

E então passamos para o reconhecimento de nós humanos, com a observação do próprio corpo, através de detalhes, com o objetivo de não permitir que o desenho esquemático e clichê se instalasse, e sim, desse lugar a uma observação cuidadosa e detallhada. Na aula seguinte trouxemos um esqueleto humano de resina, do tamanho natural, para que entendessem como somos por dentro, como nos estruturamos, introduzindo e adensando o auto-conhecimento físico.

E o que não enxergamos, não existe? A partir desse novo desafio, criamos hipóteses, juntamente com as crianças, sobre onde poderiam “morar ” bichinhos invisíveis, e fizemos várias coletas e cultivamos em placas de ágar (um tipo de alga ) estéreis, como as usadas em laboratórios. Coletamos saliva, entre os dedos do pé, ramelinho do olho, cutucamos um nariz, coletamos na pia do banheiro, na torneira, em uma moeda, na privada, telefone,…Com o crescimento dos micro-organismos, pudemos demonstrar para nossos futuros cientistas, a importância da higiene, e como lavar a mão corretamente e o por quê, como pode se dar o contágio, os cuidados para com eles mesmos e para com os outros.

E tudo isso sempre documentado através de desenhos, de representações variadas, como colagens, costuras, trabalhando a habilidade fina, a coordenação que contribuirá também para o exercício da escrita.

Acreditamos que a beleza dos trabalhos de nossos queridos alunos está na verdade da representação do conhecimento por eles adquirido, essa conquista necessária para a construção de um estudande interessado, alegre e curioso, futuro cidadão consciente e participativo.

Massumi e Vania, professoras da 1ª série (1º semestre de 2007)

Trabalho apresentado no 24o. Congresso Brasileiro de Microbiologia

Vigilantes da Natureza


VIGILANTES DA NATUREZA

A história da Educação Ambiental em nossa escola começou em 1998 quando criamos um grupo de alunos de 5ª à 8ª série, chamados “VIGILANTES DA NATUREZA”, que se reunia semanalmente para discutir e atuar em benefício do Meio Ambiente.
O trabalho de sensibilização era meta fundamental em nossos encontros. Para estimular o grupo, fazíamos lanches naturais, como por exemplo, pão de cenoura, hambúrguer de abobrinha, suco de couve, erva cidreira, beterraba etc.
Procurávamos fazer entender a importância de cuidar do Meio Ambiente que começa no seu interior, no seu corpo e onde vive (casa, rua, bairro, cidade, escola).
Mostrávamos sempre que através de pequenas ações no dia-a-dia garantíamos vida saudável e praticávamos o exercício de cidadania.
Várias ações são desenvolvidas através de oficinas de artes, vídeo, horta, jardinagem, reciclagem, mosaico, tecelagem, pintura etc.
Produzimos viveiros, composteiras, murais, folders e jornais; produzimos papel artesanal, música, rap, concurso de redação com premiação e muita lição.
Estudamos vários textos sobre a história do lixo em São Paulo e entendemos e/ou aprendemos que o lixo deve ser reciclado e gerenciado principalmente em se tratando da cidade de São Paulo, onde se produz 18 mil toneladas/dia de lixo.
O Grupo Vigilantes da Natureza tem a responsabilidade ambiental de cuidar das caixas de reciclagem das salas de aula, regar as plantas, cuidar da horta, vistoriar as torneiras, produzir cartazes enfocando atitudes ecologicamente corretas, enfim cuidar da escola.

Equipe Responsável pelo Projeto:

• Adelina de Barros Carneiro
• Regina Moretti
• Fernanda Moretti Ferrari.
• Elen Cristina Faht


Sementes de Maracujá

Na oficina de Educação Ambiental, os alunos do 1º ano prepararam sementeira de maracujá que foram plantadas em tubetes. Acompanharam todo o processo de germinação e pesquisaram que o maracujá amarelo é originário da América Tropical, com mais de 150 espécies nativas.
É uma planta pendente, que se alastra pelos muros, formando belíssimas cercas vivas. O maracujá é uma fruta muito consumida, cuja polpa, muito suculenta, é usada para sucos, sorvetes, bolos, doces, mousses etc. Sua casca é fitoterápica – fonte de vitaminas e minerais.
Após atingir cerca de 5 cm de crescimento os alunos transplantaram as mudas de maracujá em saquinhos e levaram para plantar em lugar que tenha sol na sua casa ou em uma praça.
As sementes eram tão férteis que todas germinaram. O grupo “Vigilantes da Natureza” ganhou mudas e ainda sobrou um pouco para doar à comunidade.”

Atividade realizada em setembro de 2008. Veja mais fotos em Sementes em tubetes.

Veja fotos do prosseguimento do trabalho, em Vigilantes 01outubro2008.

Professora Adelina de Barros Carneiro


Oficina de Serigrafia realizada em 29/05/08

No dia 29 de maio de 2008 a Professora Adelina coordenou uma oficina de serigrafia para estampar o novo logo da Oficina em camisetas dos alunos. O logo foi concebido por Massumi Guibu, arquiteta e designer colaboradora da escola, umas das coordenadoras da Oficina ARTEcomCIÊNCIA. Veja mais fotos em Oficina 29 de maio.


Grupo vigilantes da Natureza produz Calendário do Advento, reciclando telas de silk screen já obsoletas e molduras recolhidas de caçamba nas ruas…

Dezembro – 2007


Terrário

O Terrário é um ecossistema engarrafado que permite observarmos o ciclo da vida. Essa idéia foi desenvolvida por acaso pelo botânico amador Daniel Ward quando observava uma crisálida de borboleta dentro de uma garrafa. A terra da garrafa tinha uma raiz de samambaia misturada e ela brotou e cresceu. Ele testou outras plantas e concluiu que, com um pouco de luz e umidade, os vegetais poderiam viver por anos num ambiente lacrado.

Parece uma coisa simples, mas graças ao terrário, mudas das mais variadas plantas puderam atravessar os oceanos sem sofrerem danos.

Partindo dessas informações os “Vigilantes da Natureza” desenvolveram uma pesquisa e criaram o seu próprio terrário.

Telas de frapos de tecidos

O grupo Vigilantes da Natureza que tem encontros semanais para conversar sobre a impontância de cuidar do meio ambiente onde vive, confeccionou telas de frapos de tecidos, as quais foram produzidas à acrílica. No próximo encontro cada um deverá dar título à sua obra.
Produzindo arte com reciclagem garante-se um compromisso de trabalho baseado na sustentabilidade. Este é o nosso grande compromisso.

Reportagem sobre a tradição oral na educação escolar, projeto em andamento no Amorim Lima

Reportagem sobre a tradição oral na educação escolar, projeto em andamento no Amorim Lima. Disponível em http://www.brasildefato.com.br/node/246.

Início

A tradição oral na educação escolar

ter, 2010-09-14 16:10 — Michelle

Ação Griô Nacional busca criar uma política nacional de educação que garanta o ensino das tradições orais e da cultura popular brasileira

14/09/2010

Michelle Amaral
da Reportagem

Poderia ser uma escola pública como outra qualquer. Porém, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, que fica no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo (SP), traz algo diferente em sua forma de educar as crianças. Entre as disciplinas do currículo escolar, os alunos têm um tempo reservado para o aprendizado da cultura popular brasileira, através de manifestações da tradição oral.

Este trabalho é realizado pelo Ponto de Cultura Amorim Rima e Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira (Ceaca), que atua dentro da escola. Comandado por Alcides Lima, o ponto de cultura atende cerca de 300 crianças de 1ª a 4ª série.

Mestre Alcides, como é conhecido, conta que o trabalho começou por oficinas de capoeira fora do período escolar no ano 2000. E se consolidou quando, em 2005, o grupo passou a ser ponto de cultura, através de um edital do Ministério da Cultura (MinC).

O mestre explica que as aulas sobre a cultura popular ministradas pelo ponto de cultura fogem dos padrões do ensino formal das escolas brasileiras. A oralidade, segundo ele, trata-se de repetição. Assim, nas aulas, as crianças aprendem através da repetição de histórias, cantos, contos, poesias, entre outras manifestações artísticas. Primeiro, aprende-se o que é determinada tradição, trabalhando a parte gestual dela, como dança, música ou teatro. Depois, o aluno estuda sobre a sua origem e todo o contexto que a envolve. “A gente vai dando à criança essa questão da oralidade. Ah, de onde vem o coco? De Pernambuco. E onde fica Pernambuco? Fica no Nordeste. O que é ciranda, cordel? Que linguagem é essa? Como surgiu? Por que surgiu?”, exemplifica Alcides. Desta forma, o ensino da tradição oral complementa a educação formal. Atualmente, o ponto de cultura trabalha além da capoeira, com coco, ciranda, puxada de rede, maculelê e samba de roda.

Ação Griô
O trabalho desenvolvido no Ponto de Cultura Amorim Rima não é único. Ele faz parte da Ação Griô Nacional, uma rede que integra 130 pontos de cultura em todo o país e que, através de seus mestres, busca fortalecer a identidade cultural de crianças e adolescentes, segundo a tradição de cada comunidade.

O objetivo da Ação é criar uma política nacional de educação que garanta o ensino das tradições orais e da cultura popular brasileira. “É uma mudança do currículo, da prática pedagógica da escola com esse novo olhar e com essa nova geração que se cria com os saberes e com os griôs e mestres”, explica Lílian Pacheco, educadora e coordenadora da Ação Griô Nacional.

A rede nasceu a partir do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, em Lençóis (BA), do qual Pacheco é coordenadora pedagógica, e hoje é formada por cerca de 750 mestres e griôs aprendizes.

A educadora conta que a Ação Nacional começou quando, com a formação dos pontos de cultura em 2005, o então secretário de Cidadania Cultural do MinC, Célio Turino, se interessou pelo projeto do Grãos de Luz e Griô, que já trabalhava com a oralidade, e decidiu estender a ação para todo o país.

Com isso, os pontos que já realizavam trabalho semelhante passaram a integrar a ação. “Uma coisa que a gente fala, não só eu, mas todos da tradição oral, é que a gente não começou com a Ação Griô, com o Ministério da Cultura. A gente lida com isso há muitos anos”, explica Alcides.

Reconhecimento
Para ser um mestre griô é necessário ser reconhecido por sua comunidade como detentor do conhecimento das tradições orais. Além dos mestres, existem os griôs aprendizes, que são educadores que trabalham com o ensino da cultura popular.

A palavra griô vem de griot, em francês. A palavra tem sua origem em bamanan, língua do noroeste da África, antigo império do Mali, e significa “o sangue que circula”. Assim como o significado da palavra, são reconhecidos como griôs aqueles que fazem com que as tradições circulem entre as novas gerações, preservando a identidade cultural de cada povo.

Lílian Pacheco aponta que a Ação Griô traz o reconhecimento dessas pessoas que guardam os saberes e tradições de cada comunidade. “O mestre griô daquela comunidade passa a ter um outro lugar social, político, econômico e educacional”, relata.

A griô aprendiz Catarina Ribeiro, do Ponto de Cultura A Bruxa Tá Solta, situado em Rorainópolis (RR), diz que nas comunidades em que a Ação Griô atua, percebe-se um olhar atencioso para os mais velhos. “Hoje temos jovens que falam que a melhor coisa no convívio com os mestres é a permanente prática de cooperação e solidariedade”, afirma.

Com isso, os mestres ganham visibilidade e começam a ser reconhecidos em seus locais de origem. “Para nós, do Ponto, eles são os nossos guardiões, fonte em que buscamos a renovação das forças e a alegria para caminhar. E os saberes da tradição oral são o ativo estratégico para continuarmos a riqueza da diversidade cultural brasileira”, conta a griô aprendiz, responsável pela coordenação da Regional Amazônia da rede.

Identidade cultural
Segundo Lílian Pacheco, esse reconhecimento contribui para o resultado que se espera obter através da educação das tradições orais, que é “o fortalecimento da identidade das crianças e dos adolescentes, a ancestralidade da criança e do adolescente de cada comunidade”.

A educadora afirma que, com o trabalho realizado pela Ação Griô, as crianças passam a reconhecer a sua etnia, sua descendência e a história de seu povo. No mesmo sentido, os educadores passam a tratar as ciências que são ensinadas nas escolas com um olhar mais contextualizado dentro do universo dos saberes, enriquecendo o aprendizado. “A ciência que tem o pescador daquela comunidade passa a ser integrada na ciência que está sendo estudada na escola”, exemplifica.

Pacheco, através das experiências vividas em seu ponto de cultura na cidade de Lençóis, reuniu todas as atividades e práticas realizadas e formulou a Pedagogia Griô. No entanto, segundo ela, cada ponto de cultura acaba criando o seu próprio modo de ensino através da oralidade, de acordo com o contexto cultural local.

No caso do Ponto de Cultura Amorim Rima, em São Paulo, Mestre Alcides conta que a capoeira é trabalhada como “uma possibilidade humana de educação”. Ele explica que através dela é possível agregar valores às crianças. “Porque dentro da capoeira tem toda uma questão de resgate de valores, como o respeito, o reconhecimento, entender porque as pessoas não são iguais, que cada um tem a sua dificuldade, que um complementa o outro. A gente trabalha isso”, descreve.

Outro exemplo pode ser dado através da experiência realizada no Ponto de Cultura Nina Griô, que fica em Campinas (SP). Marcos Alberto Simplício, o mestre Marquinhos, relata que um dos trabalhos realizados por seu ponto de cultura é a Roda do Conhecimento, uma reunião mensal de troca de saberes através da oralidade, onde crianças e adolescentes ouvem pessoas envolvidas no universo da cultura popular contarem suas histórias e experiências de vida. Segundo ele, esta é uma “pedagogia que valoriza o poder da palavra e fortalece os processos de formação de identidades locais”.

Para Catarina Ribeiro, “garantir o cuidado e a rede de transmissão oral é garantir a brasilidade que nos diferencia e nos aproxima dos demais povos”.

Fonte:Jornal Brasil de Fato

Reportagem sobre a tradição oral na educação escolar, projeto em andamento no Amorim Lima

ter, 2010-09-14 16:10 — Michelle
Ação Griô Nacional busca criar uma política nacional de educação que garanta o ensino das tradições orais e da cultura popular brasileira

Michelle Amaral
da Reportagem

Poderia ser uma escola pública como outra qualquer. Porém, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, que fica no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo (SP), traz algo diferente em sua forma de educar as crianças. Entre as disciplinas do currículo escolar, os alunos têm um tempo reservado para o aprendizado da cultura popular brasileira, através de manifestações da tradição oral.

Este trabalho é realizado pelo Ponto de Cultura Amorim Rima e Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira (Ceaca), que atua dentro da escola. Comandado por Alcides Lima, o ponto de cultura atende cerca de 300 crianças de 1ª a 4ª série.

Mestre Alcides, como é conhecido, conta que o trabalho começou por oficinas de capoeira fora do período escolar no ano 2000. E se consolidou quando, em 2005, o grupo passou a ser ponto de cultura, através de um edital do Ministério da Cultura (MinC).

O mestre explica que as aulas sobre a cultura popular ministradas pelo ponto de cultura fogem dos padrões do ensino formal das escolas brasileiras. A oralidade, segundo ele, trata-se de repetição. Assim, nas aulas, as crianças aprendem através da repetição de histórias, cantos, contos, poesias, entre outras manifestações artísticas. Primeiro, aprende-se o que é determinada tradição, trabalhando a parte gestual dela, como dança, música ou teatro. Depois, o aluno estuda sobre a sua origem e todo o contexto que a envolve. “A gente vai dando à criança essa questão da oralidade. Ah, de onde vem o coco? De Pernambuco. E onde fica Pernambuco? Fica no Nordeste. O que é ciranda, cordel? Que linguagem é essa? Como surgiu? Por que surgiu?”, exemplifica Alcides. Desta forma, o ensino da tradição oral complementa a educação formal. Atualmente, o ponto de cultura trabalha além da capoeira, com coco, ciranda, puxada de rede, maculelê e samba de roda.

Ação Griô
O trabalho desenvolvido no Ponto de Cultura Amorim Rima não é único. Ele faz parte da Ação Griô Nacional, uma rede que integra 130 pontos de cultura em todo o país e que, através de seus mestres, busca fortalecer a identidade cultural de crianças e adolescentes, segundo a tradição de cada comunidade.

O objetivo da Ação é criar uma política nacional de educação que garanta o ensino das tradições orais e da cultura popular brasileira. “É uma mudança do currículo, da prática pedagógica da escola com esse novo olhar e com essa nova geração que se cria com os saberes e com os griôs e mestres”, explica Lílian Pacheco, educadora e coordenadora da Ação Griô Nacional.

A rede nasceu a partir do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, em Lençóis (BA), do qual Pacheco é coordenadora pedagógica, e hoje é formada por cerca de 750 mestres e griôs aprendizes.

A educadora conta que a Ação Nacional começou quando, com a formação dos pontos de cultura em 2005, o então secretário de Cidadania Cultural do MinC, Célio Turino, se interessou pelo projeto do Grãos de Luz e Griô, que já trabalhava com a oralidade, e decidiu estender a ação para todo o país.

Com isso, os pontos que já realizavam trabalho semelhante passaram a integrar a ação. “Uma coisa que a gente fala, não só eu, mas todos da tradição oral, é que a gente não começou com a Ação Griô, com o Ministério da Cultura. A gente lida com isso há muitos anos”, explica Alcides.

Reconhecimento
Para ser um mestre griô é necessário ser reconhecido por sua comunidade como detentor do conhecimento das tradições orais. Além dos mestres, existem os griôs aprendizes, que são educadores que trabalham com o ensino da cultura popular.

A palavra griô vem de griot, em francês. A palavra tem sua origem em bamanan, língua do noroeste da África, antigo império do Mali, e significa “o sangue que circula”. Assim como o significado da palavra, são reconhecidos como griôs aqueles que fazem com que as tradições circulem entre as novas gerações, preservando a identidade cultural de cada povo.

Lílian Pacheco aponta que a Ação Griô traz o reconhecimento dessas pessoas que guardam os saberes e tradições de cada comunidade. “O mestre griô daquela comunidade passa a ter um outro lugar social, político, econômico e educacional”, relata.

A griô aprendiz Catarina Ribeiro, do Ponto de Cultura A Bruxa Tá Solta, situado em Rorainópolis (RR), diz que nas comunidades em que a Ação Griô atua, percebe-se um olhar atencioso para os mais velhos. “Hoje temos jovens que falam que a melhor coisa no convívio com os mestres é a permanente prática de cooperação e solidariedade”, afirma.

Com isso, os mestres ganham visibilidade e começam a ser reconhecidos em seus locais de origem. “Para nós, do Ponto, eles são os nossos guardiões, fonte em que buscamos a renovação das forças e a alegria para caminhar. E os saberes da tradição oral são o ativo estratégico para continuarmos a riqueza da diversidade cultural brasileira”, conta a griô aprendiz, responsável pela coordenação da Regional Amazônia da rede.

Identidade cultural
Segundo Lílian Pacheco, esse reconhecimento contribui para o resultado que se espera obter através da educação das tradições orais, que é “o fortalecimento da identidade das crianças e dos adolescentes, a ancestralidade da criança e do adolescente de cada comunidade”.

A educadora afirma que, com o trabalho realizado pela Ação Griô, as crianças passam a reconhecer a sua etnia, sua descendência e a história de seu povo. No mesmo sentido, os educadores passam a tratar as ciências que são ensinadas nas escolas com um olhar mais contextualizado dentro do universo dos saberes, enriquecendo o aprendizado. “A ciência que tem o pescador daquela comunidade passa a ser integrada na ciência que está sendo estudada na escola”, exemplifica.

Pacheco, através das experiências vividas em seu ponto de cultura na cidade de Lençóis, reuniu todas as atividades e práticas realizadas e formulou a Pedagogia Griô. No entanto, segundo ela, cada ponto de cultura acaba criando o seu próprio modo de ensino através da oralidade, de acordo com o contexto cultural local.

No caso do Ponto de Cultura Amorim Rima, em São Paulo, Mestre Alcides conta que a capoeira é trabalhada como “uma possibilidade humana de educação”. Ele explica que através dela é possível agregar valores às crianças. “Porque dentro da capoeira tem toda uma questão de resgate de valores, como o respeito, o reconhecimento, entender porque as pessoas não são iguais, que cada um tem a sua dificuldade, que um complementa o outro. A gente trabalha isso”, descreve.

Outro exemplo pode ser dado através da experiência realizada no Ponto de Cultura Nina Griô, que fica em Campinas (SP). Marcos Alberto Simplício, o mestre Marquinhos, relata que um dos trabalhos realizados por seu ponto de cultura é a Roda do Conhecimento, uma reunião mensal de troca de saberes através da oralidade, onde crianças e adolescentes ouvem pessoas envolvidas no universo da cultura popular contarem suas histórias e experiências de vida. Segundo ele, esta é uma “pedagogia que valoriza o poder da palavra e fortalece os processos de formação de identidades locais”.

Para Catarina Ribeiro, “garantir o cuidado e a rede de transmissão oral é garantir a brasilidade que nos diferencia e nos aproxima dos demais povos”.

fonte:Jornal Brasil de Fato

Revista Educação No. 132

REVISTA EDUCAÇÃO – EDIÇÃO 132

Onde as disciplinas se encontram

Muito falado mas pouco executado, o método de ensino interdisciplinar ainda luta para romper a barreira dos preceitos educacionais positivistas; experiências mais radicais estão presentes em algumas escolas brasileiras

Mônica Krausz

Em dois grandes salões da Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, no Butantã, zona oeste de São Paulo (SP), crianças da 2ª à 8ª série do ensino fundamental estudam juntas, porém divididas em grupos de cinco da mesma série. Elas seguem roteiros de estudos elaborados com o currículo da escola, a partir de uma perspectiva interdisciplinar, ou seja: apresentam temas que passam por diversas disciplinas ou que utilizam elementos de cada uma delas.
Perto dali, na Escola da Vila, colégio particular construtivista que trabalha com um público de classe média alta, a discussão sobre projetos e questões da interdisciplinaridade chegou a uma metodologia de trabalho que cria uma “disciplina de integração”, ou “Projeto de Integração”, como foi batizado. No município de Cantagalo, no Rio de Janeiro, o Ciep Brizolão 227 João Nicoláo Filho “Janjão” trabalha com projetos interdisciplinares sobre temas transversais, como meio ambiente e racismo, ou atualidades, como eleições e Olimpíadas.
Essas e outras práticas são realmente interdisciplinares? Seus mentores acreditam que sim. Mas o que, efetivamente, caracteriza a interdisciplinaridade? No plano acadêmico, o Brasil assistiu às etapas de conceituação e discussão metodológica a partir da década de 70. Mas, mesmo assim, até hoje muitas das práticas ditas “interdisciplinares” são, do ponto de vista teórico, muito mais próximas do conceito de multidisciplinaridade do que de inter ou transdisciplinaridade. Ou seja, até aproximam disciplinas em torno de um tema, mas não dialogam, não inter-relacionam seus conteúdos e não levam o aluno a estabelecer relações em sua aprendizagem. Ou seja, as discussões acadêmicas em torno da interdisciplinaridade, por mais avançadas que estejam na universidade, ainda estão distantes do cotidiano escolar. Ao menos em igual perspectiva.

Multi, inter e trans

Os conceitos de multi, inter e transdisciplinaridade são distintos e, por vezes, antagônicos em suas propostas e objetivos metodológicos, porém ainda muito confundidos. A multidisciplinaridade pressupõe que várias disciplinas podem ser reunidas; porém, essa reunião não implica nem que elas tenham o mesmo objeto de estudo e tampouco que partilhem qualquer tipo de relação sobre esse objeto. Isto é, na escola os alunos podem estudar a China em geografia, os esportes olímpicos em educação física, o comunismo em história, sem que as disciplinas tenham um planejamento conjunto ou as abordagens metodológicas estipulem conexões entre os temas abordados. Em resumo, a interação entre as disciplinas não é relevante.
“Há apenas a certeza de que existe uma enorme diversidade de temas que uma disciplina sozinha jamais compreenderia”, completa Hugo Monteiro Ferreira, professor de Práticas Pedagógicas da Faculdade de Educação de Vitória de Santo Antão (PE).
No caso do ensino interdisciplinar, dois ou mais campos do saber estão reunidos e voltados para a análise e verificação do mesmo objeto de estudo. Os professores fazem um planejamento conjunto com objetivo de propor discussões que levem os alunos a estabelecer relações entre o que estão pesquisando nas diversas disciplinas em relação a um tema em questão. No trabalho interdisciplinar, uma área enriquece o conhecimento sobre a outra e o resultado é a construção de um saber mais complexo e menos fragmentado, que buscará trazer mais nexos para o estudante, visto que pesquisado e discutido sob diferentes pontos de vista.
Um exemplo disso seria um trabalho conjunto sobre diferentes aspectos da história e da cultura do país que abrigará as Olimpíadas de 2008, envolvendo as disciplinas de educação física, geografia, história e artes, entre outras. A proposta interdisciplinar faria os professores trocarem informações entre e com os alunos, a partir de pesquisas sobre o tema. O princípio metodológico está ligado à idéia de que, nesse processo de mergulho conjunto em um tema, todos participam do aprendizado, ainda que em níveis diferentes, mas havendo um pressuposto de troca.
Já a transdisciplinaridade é um conceito mais amplo. O prefixo trans quer dizer aquilo que está entre, através e além. Nesse sentido, um ensino transdisciplinar não se restringe nem à simples reunião das disciplinas nem à possibilidade de haver diálogo entre duas ou mais disciplinas porque ultrapassa sua dimensão. Faz com que o tema pesquisado passe pelas disciplinas, porém sem ter como objetivo final o conhecimento específico dessa mesma disciplina ou a preocupação de delimitar o que é o seu objeto ou o que é de outra área inter-relacionada. A transdisciplinaridade se preocupa com a interação contínua e ininterrupta de todas as disciplinas num momento e lugar.
Uma notícia sobre as Olimpíadas poderia ser o ponto de partida para uma pesquisa aprofundada sobre os esportes praticados no Brasil, as conquistas olímpicas brasileiras, a história das Olimpíadas, os grandes atletas brasileiros e estrangeiros, os países que já sediaram o evento, a China, a cultura, a história do país que abrigará as próximas Olimpíadas, o custo das passagens para lá China, a economia do país, as diferenças sociais e econômicas entre Brasil e China, enfim, temas que com certeza estão presentes em várias disciplinas, mas que, sob essa óptica, são mais importantes numa abordagem global vistos em fragmentos.
Para o professor Hugo Monteiro Ferreira, cuja tese de doutorado, defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), versa sobre uma experiência transdisciplinar numa escola pública, o conceito do que é multidisciplinar se opõe, em determinado sentido, ao conceito do que é inter e do que é transdisciplinar. A multidisciplinaridade, explica ele, ainda é resultado do paradigma cartesiano-newtoniano, que trabalha com certezas científicas. A inter e a transdisciplinaridade tentam romper com a idéia positivista e trabalhar no campo do pensamento complexo estudado pelo filósofo francês Edgar Morin (1921- ), que reúne, dialoga com, duvida, pesquisa, questiona e constrói conhecimentos que novamente podem ser postos em dúvida porque estão permanentemente em mutação. “Num modelo de ensino inter e transdisciplinar, as disciplinas são postas ao redor de um mesmo objeto e suas situações são cíclicas. Ou seja, as disciplinas não possuem posição de importância uma em relação à outra, porém, em processo de compreensão do objeto, estudam, de um ponto de vista dialógico, aquilo que é objeto do estudo”, explica Ferreira.
O primeiro pensador a definir o ensino transdisciplinar como um grau mais elevado de interdisciplinaridade foi Jean Piaget(1896-1980).

O ensino transdisciplinar, na visão de Jean Piaget, era um grau mais aprofundado do interdisciplinar

Segundo o educador, haveria um momento na história do pensamento humano em que a interdisciplinaridade alcançaria um grau de conexão tão intenso que as disciplinas, para além do diálogo, chegariam a um nível mais elevado de interação. Depois de Piaget, Morin e Cornelius Castoriadis (1922-1997) propuseram, em decorrência de suas reflexões acerca da teoria da complexidade, uma revisão no conceito de ensino que o mundo ocidental adotou a partir das teorias cartesianas e newtonianas sobre a realidade e seus desdobramentos.
Morin rejeita as teorias positivistas que elegeram a razão iluminista como a forma mais legítima de entender e de explicar a realidade. “Ele refuta o discurso redutor das teorias modernas que elegeram a ciência, mais exatamente as ciências naturais, como a única fonte de resposta à questão de o que é a vida”, diz Ferreira.
Para o pensador francês, a transdisciplinaridade propõe que a ciência seja uma forma de explicação da vida, porém não a única nem a mais legítima, visto que a ciência é criação do homem e, por ser criação humana, não pode nem deve estar alheia àquilo que a configura: a sua natureza complexa.

O movimento interdisciplinar

Em Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa(Papirus Editora), Ivani Fazenda, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas da Interdisciplinaridade (Gepi) da PUC-SP, relata um pouco da trajetória dos estudos da interdisciplinaridade no Brasil e no mundo. Segundo ela, o movimento da interdisciplinaridade surgiu na Europa, principalmente na França e na Itália, em meados da década de 60, evidenciando o compromisso de alguns professores universitários que buscavam “o rompimento com uma educação por migalhas”, com a organização curricular excessivamente especializada e toda e qualquer proposta de conhecimento que incita o olhar do aluno numa única direção. Um dos principais precursores da interdisciplinaridade foi o filósofo e epistemólogo Georges Gusdorf (1912-2000). Segundo ele, o destino da ciência multipartida seria a falência do conhecimento, pois, na medida em que nos distanciamos de um conhecimento em sua totalidade, estaríamos decretando a falência do humano, “a agonia da nossa civilização”.
As discussões sobre interdisciplinaridade chegaram ao Brasil no final da década de 60. De acordo com Ivani Fazenda, interdisciplinaridade tornou-se, então, palavra de ordem a ser empreendida na educação, uma forma de modismo. A primeira produção significativa sobre o tema no Brasil é de Hilton Japiassu, que publica Interdisciplinaridade e patologia do saber em 1976.
De acordo com Ivani, tanto Japiassu quanto Gusdorf dão indicações detalhadas e ainda atuais sobre os cuidados a serem tomados na constituição de uma equipe interdisciplinar: necessidade do estabelecimento de conceitos-chave para facilitar a comunicação entre os membros da equipe, exigências para delimitação do objeto ou tema a ser pesquisado, repartição de tarefas e partilha de resultados.

Obstáculos e perspectivas

Para Débora Vaz, diretora da Escola Castanheiras, de Santana de Parnaíba (SP), a grande vantagem desta década em relação à de 90 é que agora as escolas estão livres do modismo. “Hoje, olhamos para o conhecimento e vemos que é possível e bom que se favoreça o olhar de um mesmo objeto tendo a contribuição de diversas áreas, mas sabendo e entendendo que não é sempre que isso vai acontecer”, explica.
“Pensamos muito nas escolhas de natureza interdisciplinar, porém temos claro que nem tudo pode ser considerado abordagem interdisciplinar”, acrescenta Débora. No 3º ano do fundamental os alunos estudam quem eram os moradores das serras do entorno de Santana de Parnaíba. “Nesse trabalho, eles lêem gráficos, fazem análises quantitativas do número de indígenas que moravam aqui, mas não o classificamos como interdisciplinar, porque esse trabalho não altera o conhecimento que eles já têm de matemática”, diz. Quando a turma entra no campo das artes para estudar as representações artísticas daquelas nações, isso se altera. “Esse estudo transforma o conhecimento que eles têm de artes e das nações indígenas”, finaliza.
Segundo a diretora, antes de realizar qualquer tipo de planejamento de prática interdisciplinar, os professores tentam responder a uma questão básica: quais são as áreas do conhecimento que contribuirão para o aluno entender melhor esse objeto por diversas ópticas?


Alunos da EMEF Amorin Lima, em São Paulo: experimentação para a busca dos saberes com classes que misturam alunos de idades variadas

Para Débora, as dificuldades no trabalho da interdisciplinaridade ainda estão na formação dos educadores, muito positivista e compartimentadora do conhecimento. “Isso ainda faz com que o próprio professor consiga ver pouco o mesmo objeto de vários lados”, explica. Outro problema, segundo ela, é a falta de investimento na formação de professores em ciências naturais. “O professor tem de buscar conhecimentos desses conteúdos de áreas de pouca cultura no Brasil”, sugere. “Há pouca cultura em física e em química. Fugimos muito dessas áreas: ou sabemos muito pouco, ou generalizamos ou reduzimos”, acredita.
E a terceira dificuldade é a própria forma como o currículo está organizado. “A organização clássica do currículo em x aulas de y disciplinas compromete muito o trabalho com a interdisciplinaridade. O que a gente consegue é, dentro das possibilidades existentes, trabalhar com focos interdisciplinares. Há algumas escolas que rompem com isso num ensino totalmente diferenciado, mas acho que ainda não é a nossa geração que vai viver essa transformação em sua totalidade.”

Ser interdisciplinar

Para a pesquisadora de inter e transdisciplinaridade Cristina Salvador, coordenadora dos cursos de Pedagogia e Formação de Professores da Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo (SP), não basta reunir disciplinas em um projeto para ser interdisciplinar. O sucesso da interdisciplinaridade depende de quem trabalha a proposta interdisciplinar. “É preciso ser coerente, humilde e saber se rever. Refletir sobre a sua ação e se renovar. Assim o professor contribui para a construção do próprio conhecimento e do conhecimento do outro.”
As características de um professor interdisciplinar também são descritas por Ivani Fazenda: “O professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar, possui um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, ousa novas técnicas e procedimentos de ensino. Antes, porém, analisa-os e dosa-os convenientemente”.
Defensora escancarada dessa visão, Ivani acredita que o docente que opta por esse caminho tem maior envolvimento com seu trabalho, mas sofre muitas restrições de ordem institucional. “Seu trabalho acaba por incomodar os que têm a acomodação por propósito”, alerta.

“Se você trabalha na lógica do ‘ou’, você trabalha com exclusão”,diz Cristina Salvador, da Universidade São Judas Tadeu

Os métodos pedagógicos que levam em conta os conhecimentos prévios dos alunos e pressupõem que os alunos constroem seus conhecimentos a partir do que conhecem e da troca com o outro, como o construtivismo, costumam trabalhar bem com a interdisciplinaridade. “É preciso saber de qual conhecimento o aluno já se apropriou para ajudá-lo a superar essa bagagem que ele traz. Dialogar com outras fontes de saber permite reciclar aquilo que você já sabia e se superar”, defende Cristina Salvador, da Universidade São Judas.

Visão abrangente

Uma das vantagens da idéia de interdisciplinaridade é sua opção pela conjunção aditiva “e” – e não pela alternativa “ou”. Por isso, defende Cristina, é inclusiva. “Se você trabalha na lógica do ‘ou’, você trabalha com exclusão. Você tem um bom aluno ou você tem um mau aluno. Você aprende isso ou aquilo. Você exclui. Então trabalhar na lógica do ‘e’ é trabalhar na inclusão. Você tem um aluno que pode ser bom e mau em alguns momentos. Você estuda isso e aquilo, não isso ou aquilo”, completa.
Na opinião da educadora, o mais importante na metodologia interdisciplinar é o olhar. “Na interdisciplinaridade, o educador se permite olhar para outras direções e não fica preso só a um conteúdo específico que pretende ensinar. Vai em busca de outros campos do conhecimento, outras áreas para abastecer o seu próprio campo de conhecimento. Por mais que saiba a respeito de uma coisa, sempre vai ter possibilidade de ampliar o seu campo de conhecimento a respeito dessa mesma coisa.”
Ivani Fazenda resume um pouco da essência da prática do professor que trabalha segundo essa perspectiva: “A metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar, de ir além e exercita-se na arte de pesquisar”.

Para saber mais
– Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa, de Ivani Arantes Fazenda, Papirus Editora

– Os sete saberes necessários à educação do futuro, de Edgar Morin, Cortez Editora

– Educação e complexidade – Os sete saberes e outros ensaios – Edgar Morin, orgs. Maria Conceição de Almeida e Edgar de Assis Carvalho, Cortez Editora

– Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado, de Jurjo Torres Santome, Artmed

– O ensino de artes e de inglês, uma experiência interdisciplinar,
de Ana Amália Tavares Bastos Barbosa, Cortez Editora

– Para ensinar e aprender geografia, de Nídia Nacib Pontuschka, Tomoko Lyda Paganelli e Núria Hanglei
Cacete, Cortez Editora

Proximidade máxima

Escolas juntam classes de séries diferentes para trabalhar de forma interdisciplinar

Classes com alunos de várias séries trabalhando em grupos, na EMEF Desembargador Amorim Lima, em São Paulo: trabalho inspirado na Escola da Ponte.

Um modelo de gestão comunitária, inspirado no trabalho da Escola da Ponte, de Portugal. Desde 2004, a EMEF Desembargador Amorim Lima, no Butantã, em São Paulo (SP), vem se reestruturando pedagogicamente de acordo com essa perspectiva.

“Inspirada, porém diferente”, diz a diretora Ana Elisa Siqueira. “Estamos em uma cultura diferente e temos mais do que o dobro de alunos. Mas tínhamos a mesma vontade de mudar o modelo de educação, pois o que havia não atendia ao desejo da comunidade”, explica.
As paredes das salas de aula foram derrubadas. A escola passou a ter dois grandes salões e algumas salas especiais que abrigam biblioteca, informática e a sala da 1ª série, além da sala de oficinas especiais. As turmas de 2ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries se dividem em dois grandes salões onde não há mais lousa nem aulas expositivas. Depois da mudança na parte física da escola, iniciou-se um intenso trabalho de reconstrução curricular. “O professor não tem mais uma sala de aula, um grupo de alunos e um quadro-negro. Agora, tem alunos de várias séries, convivendo num mesmo espaço, onde é impossível reger uma aula”, diz. “Então foi preciso ter uma outra perspectiva do trabalho do educador, do trabalho das crianças e da escola como um todo”, conta.
A escola começou, a repensar o currículo. Geraldo Tadeu Souza, doutor em lingüística pela USP, acompanhou durante um ano o trabalho dos professores, observando suas práticas, que naquele primeiro ano foram bastante intuitivas por não haver material didático específico para aquele modelo de escola. “Nesse projeto, os alunos trabalham em grupos de cinco crianças da mesma série, porém no espaço de um salão onde há dezenas de outros grupos da sua e de outras séries, além de professores/tutores polivalentes que acompanham várias crianças de diversos grupos e séries diferentes”, conta Geraldo.
Como a lousa havia deixado de ser o espaço referencial central da sala de aula, os educadores tiveram de propor atividades para atender às demandas dos alunos. Isso significou rever modelos, pois os livros didáticos, por exemplo, pressupõem um trabalho em classe com um único professor ou com professores especialistas divididos por disciplinas.
Depois desse período de observação, Tadeu Souza começou a elaborar roteiros de atividades interdisciplinares que seriam desenvolvidas em cada série. “Com base nos livros didáticos do PNLD escolhidos pela escola, comecei a montar roteiros de atividades”, conta. Hoje, são cerca de 18 roteiros temáticos por série. Cada criança deve cumpri-los em um ano, pois eles contemplam a totalidade do currículo da série.
“Se a criança não conseguir fazer todos os roteiros da 5ª série num ano, ela inicia a 6ª série com os roteiros da 5ª que não conseguiu completar”, conta Ana Elisa. “Lá na 8ª série pode ser que ela tenha vários roteiros atrasados para cumprir, mas nesse caso ela não terá repetido o ano, e sim avançado em seu ritmo”, explica. Hoje esses roteiros estão disponíveis na internet em www.amorimlima.org.br. Toda a comunidade pode consultá-lo e os alunos podem ter conhecimento de tudo o que aprenderão da 1ª à 8ª série do ensino fundamental.
Apenas a 1ª série assiste às aulas em uma sala separada. Isso se justifica, segundo a diretora, pelo fato de os alunos estarem no momento de aquisição da habilidade de ler, fundamental no desenvolvimento dos roteiros temáticos das séries seguintes. Na 2ª série, por exemplo, os roteiros abordam os temas água, ar e fogo, bichos, casa, escola, espaço, família, lazer, terra, medos, percepção, planeta azul, tempo, trabalho, matemática, as quatro operações, dinheiro e números.
No roteiro Escola, a criança trabalhará com português, história, geografia e matemática. Geraldo lembra que, mesmo quando um tema é trabalhado só em uma disciplina, pode usar ferramentas de outras. “Podemos utilizar um tema de história por meio de um texto de literatura infanto-juvenil”, explica. O objetivo dessa abordagem é formar estudantes pesquisadores. Ao final de cada roteiro os alunos preenchem uma ficha de finalização que é a conclusão do trabalho e a ferramenta de avaliação final.

“Trabalhar em grupo não é fazer a mesma coisa ao mesmo tempo. É aprender a trabalhar com, a conviver”, diz Ana Elisa Siqueira, diretora do Amorim Lima

Cada grupo tem cinco estudantes da mesma série, mas cada aluno do grupo trabalha com um roteiro independente dos roteiros dos outros. “Trabalhar em grupo não é todo mundo fazer a mesma coisa ao mesmo tempo. É aprender a trabalhar com, é aprender a conviver”, diz Ana Elisa. A idéia é que os alunos conversem, que se ajudem. O que um está fazendo nesse momento pode ser que o outro já tenha feito ou ainda faça. Os alunos também podem optar por fazer juntos o mesmo roteiro. O pressuposto principal é que todos perfaçam o roteiro em sua integralidade, com diálogo e trocas, sem que haja uma divisão de incumbências, como ocorre normalmente.

Professor polivalente

Outro exemplo de interdisciplinaridade na Rede Municipal de Educação de São Paulo é a EMEF João Pinheiro, na Penha. Lá, os professores polivalentes estão presentes da 1ª a 8ª série. Os professores de 5ª série em diante são especialistas, mas orientam os alunos em todas as disciplinas do currículo, como os polivalentes das séries iniciais. Só artes, inglês e educação física são ministradas por professores especialistas em horários específicos.
De acordo com Marjorie Cortelli, coordenadora pedagógica de 5ª à 8ª série, o trabalho de polivalência iniciou-se na escola há mais de 24 anos com assessoria da Escola Vera Cruz, pioneira no método no Brasil. “Os professores buscaram uma metodologia para combater a retenção, que era muito grande”, lembra. Para isso passaram a estagiar na Vera Cruz.

Marjorie Cortelli, orientadora da EMEF João Pinheiro: material desenvolvido para que o aluno desenvolva os conceitos por meio de pesquisa.

A escola parte da idéia de que o professor trabalha o desenvolvimento de habilidades com os alunos. “Temos um material, composto de fichas de aprendizagem, que é todo diferenciado. Eles não usam o livro didático porque não trabalham dessa forma em que um professor manda abrir o livro e fazer aquilo que está lá. O material é todo formatado para que o aluno vá desenvolvendo os conceitos por meio de pesquisa, com a orientação do professor e apoio dos colegas”, conta Marjorie.
A aula é composta de vários momentos. Num momento principal, chamado de TP (tempo pessoal), sempre que o professor for apresentar um conceito novo, entrega uma ficha com propostas que foram desenvolvidas por professores especialistas para os alunos. Marjorie explica que o TP tem 45 minutos, em que o aluno deve tentar resolver as propostas da ficha entregue. Para isso, ele já sabe que deve consultar as fichas já estudadas, mas que não pode conversar com os colegas. Se tiver dúvidas, se inscreve na lousa para conversar com o professor, que irá orientá-lo e apontar seus erros de percurso. Ao final dos 45 minutos começa o tempo do grupo, em que todos comentam suas descobertas e a forma como chegaram à conclusão de seus trabalhos. Nessa hora, uns contribuem com o aprendizado dos outros, princípio básico das atividades interdisciplinares.

O trabalho com polivalência pode ou não contemplar a interdisciplinaridade, diz Marjorie. Isso dependerá basicamente da atitude do professor. Caso se proponha a orientar os alunos para estabelecer relações entre os conteúdos curriculares, interagir e pesquisar, a polivalência se encaixa na interdisciplinaridade. O processo de planejamento busca explicitar as oportunidades para que isso aconteça. Nas reuniões pedagógicas em que os temas anuais são trabalhados, os professores planejam quais conteúdos darão em cada momento do ano e em que momentos as disciplinas podem ser aproximadas para que uma contribua com as outras.
Segundo a professora Márcia Rodrigues Silva, da 5ª série, o professor polivalente cria um vínculo muito forte com os alunos.

“Conheço todos eles pelo nome, todos me conhecem bem. A interação é muito maior. Em termos pedagógicos, a gente acha que também rende mais por não ter troca de professor, e você pode ter a liberdade de se estender um pouco mais ou um pouco menos num conteúdo sem ficar preso a horários rígidos”, explica. A grande diferença, diz Márcia, é que a polivalência faz o professor estudar e aprender muito mais.

Em São Paulo, recuperação conjunta

Ao mesmo tempo que está implantando um currículo com conteúdo especificado para cada bimestre, série a série, a Secretaria de Estado da Educação paulista iniciou o ano letivo de 2008 aplicando uma recuperação interdisciplinar para os seus 3,6 milhões de alunos de 5ª a 8ª séries e ensino médio.
A recuperação, prevista para acontecer nas primeiras seis semanas de aula, estará focada na revisão e reforço de língua portuguesa e matemática, que serão trabalhadas também nas aulas das outras disciplinas. A medida foi tomada, de acordo com Maria Júlia Filgueira Ferreira, assessora técnica da Secretaria, em função dos baixos índices de desempenho dos alunos em avaliações nacionais e internacionais, e da importância que as duas disciplinas têm para o aprendizado de todas as outras.

Durante esse período de recuperação, professores e alunos utilizam material didático – um jornal para os alunos e uma revista para os professores – criados especificamente para essa atividade.
Maria Júlia acredita que a estrutura do ensino é indutora da fragmentação, pelo fato de ser organizada em disciplinas. Mas a interdisciplinaridade pode acontecer através de uma proposta como essa, em que toda a rede tenta reforçar as competências de leitura e escrita e de raciocínio lógico-matemático por meio das outras disciplinas. Para reforçar as habilidades de leitura e produção de texto foram selecionadas as disciplinas de língua portuguesa, língua estrangeira moderna, artes, educação física, história e filosofia. Já para a competência de matemática foram ligadas as disciplinas de matemática, geografia, biologia, física e química.
Os professores não participaram de um planejamento conjunto, mas o material de apoio foi feito por especialistas com foco na integração entre as disciplinas. De acordo com Maria Júlia, essa é a primeira experiência de interdisciplinaridade planejada e organizada para toda a rede. “Enquanto as outras eram experiências pontuais de algumas escolas, dependendo da criatividade de cada equipe, essa é para toda a rede. Quando você quer resultados em um sistema, tem de intervir no sistema”, diz.
A assessora acredita que se a administração trabalhar um currículo unificado, mas com proposta de pontos de articulação entre as disciplinas, não estará ferindo de morte o conceito de interdisciplinaridade. “É lógico que, se uma escola tem um projeto em que ela desenvolve interdisciplinaridade com sucesso e que atende também às habilidades e às necessidades que estão postas, há um espaço para essa autonomia”, ressalva. “Se a escola souber trabalhar bem com a interdisciplinaridade, vai continuar trabalhando. Mas, caso não tenha essa clareza, se perderá na autonomia. Quem ainda não tem os instrumentos adequados para ser autônomo corre o risco de naufragar”, avalia.
O temor da gestão estadual é que as escolas não consigam direcionar as atividades e, ao final de cada ano letivo, os alunos não tenham aprendido os conteúdos curriculares desejáveis para a série, objetivos essenciais como ensinar a ler, escrever e resolver problemas.

No Rio, orientação comum

Educadora há 25 anos, com experiência em escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro, Cássia Ravena, orientadora pedagógica da EM Professor Ewandro do Valle Moreira e do Ciep João Nicoláo Filho “Janjão”, ambas no Cantagalo (RJ), município de 20 mil habitantes, no norte do Estado, vê com otimismo a abordagem da interdisciplinaridade na rede local.

“Felizmente, há um movimento nesse entido. A Secretaria Estadual de Educação enviou orientações curriculares que abordam e aconselham o trabalho terdisciplinar. Foi realizado um curso para coordenadores e orientadores pedagógicos em 2006, e, no início de 2007, as escolas staduais receberam as diretrizes”, relembra.

Hoje, as escolas estaduais trabalham dentro dessa perspectiva na abordagem dos temas ransversais e na pesquisa sobre as questões de atualidades, como eleições e Olimpíadas, por exemplo.

Cássia conta que no ano passado o Ciep “Janjão” trabalhou com o tema do meio ambiente nos ensinos fundamental e médio, tratando de questões como lixo, reciclagem, efeito estufa, entre outros. “Neste ano, pesquisaremos a questão do racismo”, conta. Segundo ela, os alunos estão mais interessados nas aulas e avaliam que fi ca mais fácil entender quando um tema é tratado pelas várias disciplinas de forma conectada. “Eles até participaram de um concurso sobre meio ambiente e venceram”, relata.

A turminha Decide.

A turminha decide

Tempo na balança e no pula-pula bem como os dias de brinquedo são exemplos de decisões tiradas em assembléias por crianças de até quatro anos
Débora Menezes

Na Escola de Educação Infantil Teia Multicultural, na zona Oeste de São Paulo, crianças pequenas no tamanho (elas têm quatro anos), mas grandes na autonomia, já tomam decisões sobre o que querem ou não querem em seu cotidiano escolar. Uma das filosofias da instituição, que pertence à rede particular da capital, é realizar assembléias nas quais os alunos chegam a soluções coletivas para conflitos e expressam os seus desejos.

Representantes da Teia participam da 15ª Conferência de Educação Democrática, em Mogi das Cruzes (SP). O encontro debate princípios de uma educação que abra espaço para que os alunos sejam protagonistas e tenham liberdade de escolha (leia mais). No quinto dia de evento, um dos temas de discussão foi justamente a autonomia na Educação Infantil.

A Teia Multicultural levou alunos ao plenário e transmitiu sua experiência sobre a relação entre professores e a garotada na construção coletiva de regras de boa convivência. Entre os temas debatidos e decididos em assembléias, lembra a diretora e pedagoga Georgya Correa, está o “dia do brinquedo”. A questão para a discussão era: “podemos levar brinquedos diariamente para a escola ou vamos escolher um dia específico para isso”? O consenso foi que um dia seria suficiente. “Tomando decisões por meio de muitas conversas eles vão aprendendo a lidar com as situações do dia-a-dia e passam a entender suas responsabilidades”, diz Georgya.

Outro tema de uma das assembléias na Teia: a balança e o pula-pula são os brinquedos mais concorridos do parque. O que fazer para que todas as crianças brinquem neles na hora do recreio? A solução dos pequenos alunos: estipular um tempo para cada criança brincar, contado pelas batidas do coração.

Para a pesquisadora Marina Letícia Nascimento, especialista em sociologia da infância na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), esses são exemplos positivos de como as crianças constroem sua autonomia. “Elas precisam ter oportunidade de fazer escolhas e nem sempre isso acontece na escola. Nossa tendência é superprotegê-las e decidir por elas”, explica a educadora, que concluiu sua fala lembrando: é negociando que as crianças vão desenvolver suas competências e é fazendo-as construir regras, não apenas impondo-as, que os pequenos terão mais respeito não só aos adultos, mas entre si.

Alunos com poder

De um lado, uma escola onde os alunos têm o poder de selecionar ou até mesmo demitir professores. De outro, uma instituição onde os pais participam do planejamento político pedagógico. As duas experiências, uma nos Estados Unidos e outra em São Paulo, foram apresentadas no debate “Seleção e Avaliação Democráticas de Profissionais da Educação”.
Em Santa Fé, no sul dos Estados Unidos, a Tutorial School tem um sistema diferenciado de outros estabelecimentos de ensino. Não há um currículo formal a ser seguido; são desenvolvidos programas de pesquisa seguidos pelos aluno, cada qual no seu ritmo. No dia-a-dia, todos são apoiados (e não cobrados) pelos professores. Os estudantes também realizam assembléias para decidir sobre as regras da escola e têm o seu próprio comitê para selecionar professores e até mesmo sugerir demissões. No final de cada ano, os educadores também são avaliados pelos alunos.

A idéia é que esses princípios garantam um ambiente não-autoritário, sem clima de medo, onde os alunos têm mais condições de se envolver com os estudos e conviver em harmonia.
Se você acha que essa liberdade é desfrutada de forma enviesada pelos alunos, veja o comentário do professor Moe Zimmerberg: “Uma das coisas mais difíceis é aprender a decidir. Mas ter essa responsabilidade é a melhor forma de desenvolver o auto-conhecimento desses estudantes”. Os pais têm papel importante nesse processo, segundo a filosofia da escola: “os jovens aprendem a ter responsabilidade somente quando seus pais adotam uma política de não-interferência. Pais precisam aprender a confiar quando seus filhos tomam suas próprias decisões, mesmo se os próprios pais não concordam com elas”.

Autonomia na gestão

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Amorim Lima, na zona Oeste de São Paulo, a busca pela autonomia alcança não só os alunos, mas também os pais. Após anos de evasão e indisciplina, a escola, com 800 estudantes, transformou seu ambiente em salas de aula sem paredes, implantou um currículo sem exames finais e um conselho escolar atuante, espaço para o conhecimento e o debate do plano político pedagógico pelos pais.

Tão forte é o conselho, que a escola se uniu a outras Emefs – Presidente Campos Salles, Gabriel Prestes e Olavo Pezzotti – para propor à Secretaria Municipal de Educação a criação de uma rede de autonomia em São Paulo. A proposta está sendo discutida e melhorada e prevê que as unidades participantes tenham conselhos igualmente fortes, dando espaço para que a comunidade participe das decisões. Outra reivindicação é que as escolas tenham autonomia até mesmo para fazer a própria gestão financeira e selecionar novos educadores para a equipe. “Não queremos grandes revoluções, apenas mais liberdade de atuação”, afirma Luis Braga, presidente do conselho da Amorim Lima.

Especialista português defende inovar sem copiar.

metódo – 23 /10/2006

Especialista português defende inovar sem copiar

Educador virou referência no país após inovações da Escola da Ponte

José Pacheco diz que escolas brasileiras que se inspiraram no modelo criado por ele já começam a apresentar bons resultados

Algumas das inovações de escolas brasileiras têm como inspiração uma pequena escola no norte de Portugal, que ganhou fama no Brasil depois que o educador Rubem Alves lançou o livro “A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir”.

Por causa do crescente interesse de pedagogos brasileiros pela experiência, o mentor da Escola da Ponte, José Pacheco, 54, passou a dedicar boa parte do seu tempo a palestras e a cursos no Brasil e virou consultor da rede Pueri Domus Escolas Associadas.

Periodicamente, visita a Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo (leia texto na página ao lado), que mudou a metodologia de ensino após contato com a experiência portuguesa.

O que chamou a atenção de vários educadores para a Escola da Ponte de Portugal, com 30 anos de existência, é o fato de ela não se adequar aos padrões tradicionais.
Não há divisão por séries e as aulas não são separadas por disciplinas. São os alunos que, com a ajuda do professor, selecionam seus projetos de estudo. São eles também a indicar para o professor quando se sentem preparados para serem avaliados, e não o contrário.

Pacheco diz que há várias experiências brasileiras que estão tendo sucesso ao seguir os mesmos passos, mas afirma que não é o momento de dar visibilidade a elas. Veja trechos de sua entrevista à Folha:

FOLHA – O trabalho de sua escola em Portugal virou referência no Brasil. Mesmo assim, o senhor não acha que há poucas escolas daqui que ousam mudar?
JOSÉ PACHECO – Já não são poucas as escolas brasileiras que ousaram inspirar-se na prática da Escola da Ponte. Mas continuarão invisíveis até o momento em que adquiram sustentabilidade e possam ser reveladas. As mudanças em educação são sempre lentas. A visibilidade social precoce mata os projetos inovadores. Venho acompanhando processos de mudança bem pensados, planejados, refletidos e avaliados, sem nada de improviso. Só coloco uma condição às escolas que acompanho: que a Escola da Ponte seja inspiração, mas que não seja objeto de imitações. A Ponte não pode correr o risco de se converter em mais uma moda pedagógica, ou num mito inútil.

FOLHA – Como preparar alunos de escolas com projetos pedagógicos diferentes para se acostumarem com os modelos tradicionais?
PACHECO – Na Ponte, os alunos aprendem a fazer prova, embora não contem para avaliação, pois terão de fazer provas no futuro em muitas situações e lugares. Formamos nossos alunos para a autogestão do tempo e para se adaptarem ao ritmo do toque de uma campainha. Eles aprendem a estar em qualquer contexto. Sabem ser solidários, mas não deixam de ser competitivos.

FOLHA – A Escola da Ponte foi bem em avaliações nacionais?
PACHECO – Sim. Ela foi avaliada por testes, iguais para todas as escolas, e ficou classificada entre as melhores. Foi a única escola portuguesa avaliada por uma comissão nomeada pelo Ministério da Educação. Os relatórios revelaram a excelência do projeto. A partir dos dados, o ministério reconheceu a Ponte como referência.

Projeto em escola pública demonstra que ensinar pode ser diferente.

Setor 3 – 11 de agosto de 2006

Projeto em escola pública demonstra que ensinar pode ser diferente

Juliana Rocha Barroso e Roberta Santana

Os muros que dividiam o espaço em salas foram derrubados. Crianças de sete a 14 anos, juntas nestes grandes salões e espalhadas por todos os outros cantos, auxiliam umas às outras no desafio de atingirem objetivos que elas mesmas escolheram. Um mundo de descobertas que elas têm que desvendar. E gostam assim. Sem sinal. Aulas expositivas, só quando realmente necessário. Esta é a descrição de uma escola. E o mais incrível: brasileira e pública. Ela nasceu há dois anos, apesar de completar seu qüinqüênio este ano. "É como quando a gente aprende um jogo novo. Com o tempo, a gente pega o jeito", explica o aluno da 5ª série, Natan, que, como muitos outros passou pela transição. Acompanhado da tutora, Terezinha Maria da Silva, Natan, Nicolas e Sabrina, os três com 11 anos, nos conduziram a este universo, em que todos são aprendizes e nos contaram o que tem de diferente na sua escola.

Tudo começou há oito anos quando o conselho de escola, sempre atuante da EMEF Desembargador Amorim Lima - zona Oeste de São Paulo -, questionou problemas que considerava sérios e que refletiam diretamente no desempenho dos alunos. As mudanças foram sendo construídas na perspectiva da participação, a comunidade foi se interando da escola e dando conta do que queria como educação, o que achava importante para seus filhos. Um dos problemas era o recreio. Apenas quatro funcionários, em um percurso das 8h às 23h, acumulavam funções como fazer a merenda, limpar a escola e acompanhar o recreio. As crianças se machucavam, tinha muita briga. A proposta foi que as mães ajudassem neste horário. "Na medida em que as mães começam a olhar a escola, começam a ver um monte de coisas, que levaram para o conselho de escola de outro jeito. Foi um momento muito difícil dentro da escola, porque a comunidade via questões que a escola de fato não dava conta e ela queria resultados imediatos", conta Ana Elisa Siqueira, diretora do Amorim há quase dez anos.

Outro problema: a freqüente falta de professores. Algumas crianças entravam às 8h e saiam ao 12h, sem ter tido aula nenhuma. Quando o problema ia para o Conselho, a escola falava da indisciplina dos alunos, e os pais traziam as faltas dos professores. "Como que a gente resolve esta confusão? Os professores que vinham pegavam meninos que durante o dia tiveram muito de tempo livre. Isso cria uma indisciplina muito grande", conta. Este círculo vicioso levou ao questionamento dos pais em relação ao projeto político pedagógico da escola. "Eles perguntavam: quem tem desrespeito com quem? A indisciplina é de quem?", relembra Ana. Ela conta que um grupo menor com representatividade de todos os segmentos começou a estudar os problemas. A primeira coisa que fizeram foi mapear as ausências dos professores. Com isso, descobriu-se uma grande quantidade de faltas, não de todos os professores, mas de alguns de áreas do conhecimento fundamentais, por exemplo, Língua Portuguesa.

Existia uma descontinuidade de trabalho. Os pais queriam entender como era regida a coisa pública. Depois, pediram que a diretora trabalhasse um pouco as questões legais. O direito, o dever do professor. Estudaram a Lei 8989, que rege o funcionalismo público, trabalharam o regimento das escolas municipais e também fizeram um trabalho em cima do estatuto do magistério. "A partir deste estudo, os pais começaram a não mais olhar o projeto político pedagógico apenas em relação ao que eu dizia. Eles queriam que eu apontasse como a gente ia fazer de fato tudo que estava naquele documento", conta Ana. Ela lembra ainda que a grande discussão no momento era que determinados alunos atrapalhavam a sala de aula e por isso tinham que sair da escola. "Cheguei ao ponto de dizer que negociaria tudo o que eles quisessem, menos tirar aluno."

O que fazer com todo este cenário? Segundo Ana, na época, a perspectiva era de tentar construir um projeto coletivo. Com a verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), a escola decidiu aplicar na formação da equipe escolar. Durante dois anos (1998 e 1999), trabalhou com o Instituto Pichon Rivière, que tem como proposta a formação contínua de profissionais interessados em propiciar um diálogo criativo, crítico e democrático, gerador de mudanças nas pessoas e nos grupos. Mas o que é grupo, como se forma? "Às vezes os mais bonzinhos também acobertam o problema da sala. É uma dinâmica que se estabelece no grupo que permite que determinadas coisas aconteçam e outras não. O trabalho com o Instituto começou desde o agente escolar – a pessoa que limpa a escola – até o diretor", ressalta.

Depois do Pichon, a escola trabalhou com o Vereda, que segue a proposta do educador Paulo Freire, também contratado a partir da pequena verba. "Fazíamos umas entradas com grupos de educadores, depois com educadores, alunos e pais, às vezes só educadores e pais", explica. Já com a Práxis, assessoria educacional, o grupo do Amorim assistiu a um vídeo da Escola da Ponte, experiência educacional portuguesa de 30 anos. "Ficamos encantados com a apresentação do aluno e de como ele era dono do processo da sua aprendizagem. Como dizia que conseguia aprender, e sabia o que ele sabia e o que ele não sabia e o que precisava aprender para mudar de objetivo", diz Ana. Ela lembra que o conselho de escola ficou entusiasmado com a possibilidade de construir um projeto que tivesse essa perspectiva. "Conseguimos escrever um projeto, só que tinha um custo da assessoria. Todos nós bancamos e esses pais levaram o projeto para a secretária de educação da época, Maria Aparecida Perez." Quando visitou a Amorim, a secretária escutou, entendeu e aceitou fazer um projeto piloto na escola. "A gente não sabia muito bem como ia fazer, o que a gente sabia é que tinha como inspiração a Escola da Ponte. Estudamos o trabalho e fomos pensando como a partir dele", conta Ana, que já visitou a escola portuguesa. A única certeza, segundo a diretora, é que precisavam de professores polivalentes.

Roteiros de Vida

O projeto não começou na escola inteira. A assessoria queria começar só com a 1ª série do Ensino Fundamental, mas levariam oito anos para ter o projeto na escola toda. Os pais não aceitaram essa proposta. "Desde o primeiro ano, eu já analisava isso. Você não pode conviver muito tempo com duas escolas", justifica Ana, que acredita ter sido muito sábia a atitude dos pais. "Começamos com os primeiros e quintos anos porque quando as crianças entram na escola a maior parte não está alfabetizada. Foi importante ter estas duas pontas. Quando terminou 2004, já tínhamos mapeado a escola como um todo". Neste primeiro ano não houve tempo para mexer no currículo e foram respeitadas as possibilidades dos professores. Foi incorporado também o trabalho de cultura brasileira que já acontecia extra-aula. "Mas percebíamos que tudo que os professores preparavam era muito pouco para os alunos. Eles podiam muito mais".

Foi um professor, doutor em Lingüística, da Universidade de São Paulo estagiário na Amorim durante um ano, que observando o trabalho da escola, descobriu uma forma de viabilizar o conhecimento das crianças de forma melhor, usando como base todos os livros didáticos sem que houvesse a necessidade de um professor regendo as aulas. Geraldo Tadeu Silva criou os roteiros de pesquisa, usados hoje como base para o ensino da escola e que passam por todas as áreas do conhecimento. As crianças trabalham o tempo todo em grupos de cinco, em que cada aluno desenvolve o objetivo da área do conhecimento que vai trabalhar e tem as atividades de cada objetivo. A maior parte do tempo os alunos trabalham nesta dinâmica. Cada ano tem uma quantidade de roteiros. "Cada criança aqui tem o seu próprio ritmo, sua própria perspectiva de aprendizagem. O que é bacana é que tem um currículo que está posto hoje. A criança busca pelo roteiro onde estão as fontes das informações que vão satisfazer este objetivo. É maravilhoso", ressalta Ana.

A equipe escolar teve que ser otimizada para dar conta da nova dinâmica. Têm educadores que acompanham o trabalho de salão, têm os oficineiros e os tutores, responsáveis por acompanhar um grupo de 15 a 18 alunos durante a semana. Todos os educadores da escola são também tutores, inclusive a diretora. O compromisso da escola é com o conhecimento. Eles observam como estes alunos se organizaram no salão dentro do roteiro, como cada um colocou seus objetivos e os realizou, o que falta e o que não falta fazer e por que. Cabe ao tutor um trabalho pontual e importante. "Tem uma imagem para mim que é muito bonita: quando se tem uma planta pequena e se quer que ela cresça, você coloca um pauzinho do lado dela e amarra. Este pauzinho tem o nome de tutor", compara Ana.

A escola teve muitos casos de rejeição. E ainda hoje muitos alunos saem, mas muitos outros entram por causa do projeto. Para que ele se viabilize e sobreviva, a diretoria não acabou de uma hora para a outra com os antigos valores. No ano passado, foram implementadas oficinas de leitura e escrita e de matemática, por serem uma exigência muito grande da comunidade. "Não posso destruir, tenho que construir a partir de. O que é mais bacana deste projeto é que ele está sendo construído pelas pessoas que estão aqui e a comunidade vai dando um feedback", conta.

A coordenadora de educação do Butantã e Pinheiros, Sônia Regina Lima, destaca a experiência da Amorim como uma prática altamente solidária. "Já não é mais a minha sala, o meu aluno. Uma relação de compartilhar, de companheirismo, de solidariedade que vai além, porque implica no estabelecimento de outros vínculos, além dos tradicionais", justifica. Sônia também destaca o estímulo à descoberta. "Essa questão do desafio é um estímulo para a busca a que nós deveríamos ter sidos submetidos. Com certeza teríamos aprendido muito mais ao longo da nossa vida escolar". Ana concorda e destaca ainda o fato de os educadores da escola serem tão aprendizes quanto os alunos. "Fazemos o roteiro junto com as crianças e, como elas, acabamos sendo pesquisadores. O educador tem que ser alguém que pesquisa o tempo todo. Esse é o roteiro, é a abertura da possibilidade." Ana cita um exemplo de como as coisas funcionam. No semestre passado, foi trabalhado pela tutoria um roteiro chamado "pesquisador". As crianças aprenderam como pesquisar, como procurar em uma enciclopédia. Depois disso, o tutor permitiu que cada tutorando seu escolhesse um tema de pesquisa, um foco que interessava a criança. "O que nós estamos tentando fazer é buscar em cada estudante desta escola a possibilidade de aprender, que ele se encante com esta possibilidade, que veja que pode aprender e não aprende apenas o que o outro manda", justifica a diretora.

Ana Elisa rejeita a idéia de que a Amorim esteja tentando reproduzir o modelo da Escola da Ponte. "Estamos nos valendo desta maravilhosa experiência. Ela parte de pressupostos bastante generalizáveis que a gente pode se apoiar para pensar a nossa realidade, as nossas características e a nossa história. Temos um apoio, a partir dele a gente pode pensar o que tem e como usar isso." Um desafio porque coloca em cheque valores estabelecidos. Mas, segundo Ana, a Amorim Lima tem o que todas as demais escolas públicas municipais têm. Apenas seu projeto a diferencia. "Isso é uma coisa importantíssima para a gente avaliar o que acontece nas escolas", conclui. Para o jovem Natan e seus amigos este "apenas" faz toda a diferença.

Escola municipal promove inclusão com projeto pedagógico diferenciado.

Rede SACI
22/11/2004

A diretora da Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, Ana Elisa Siqueira, fala sobre os progressos obtidos com a metodologia de trabalho

Ana Beatriz Iumatti

A Amorim Lima é uma escola pública diferente. Há oito anos, sua diretora transformou o modus operandi da escola e propôs uma nova forma de organização. O currículo da escola está voltado para a cultura brasileira e para os esportes. Na escola há uma pista de skate, horta e mosaicos espalhados por suas paredes dando uma impressão de vida a seus visitantes. Conheça mais sobre a Amorim no texto abaixo
A questão da inclusão
“Estamos fazendo um trabalho de fortalecimento da comunidade, o que foi fundamental na história do Amorim. Eu estou há oito anos aqui no Amorim Lima e temos construído um trabalho de participação. Na quantidade e na qualidade da participação dos pais, que é muito grande. Eles participam muito e de verdade. Têm um posicionamento muito claro do que eles querem da escola, como eles querem a escola e é isso que, nesses oito anos, tem ajudado muito o trabalho.
Porque na perspectiva da inclusão, os pais se mostram muito solidários à ação do diretor, pelo menos na minha experiência. E a inclusão não é feita somente com os alunos que têm os problemas ditos mais graves. Você precisa incluir a criança que não gosta de estudar, aquela que não é olhada pela família, que tem dificuldade, até as crianças que não se aceitam como pessoas, pois nós temos isso também.
O que eu percebo é que os pais têm bastante sensibilidade em relação a essas questões. Primeiro, porque se sentem na pele dos outros pais, pois sabem que a qualquer momento um desses problemas pode vir a acontecer com eles. Então, os pais são muito parceiros nessa perspectiva. Quando eu cheguei havia essa prática de que ‘a gente pode tirar’ o aluno que dá muito trabalho, ele pode ser transferido. Eu nunca tentei isso, de falar com o diretor de outra escola e sugerir uma troca de problema: ele me manda um aluno ‘problema’ e eu mando outro. Eu prefiro os meus problemas, os problemas que vêm para mim, do que os problemas dos outros. Porque os problemas que chegam aqui, nós tentamos conhecer e cuidar. Muitas vezes, não conseguimos e aí escapa das nossas mãos.
Mas, muitas vezes conseguimos. Então, quando havia uma pressão dos professores para que algum aluno saísse, a questão era levada ao Conselho de Escola (formado por representantes de todos os funcionários, pais e alunos) e os pais me apoiavam muito.
Os pais do Conselho do Amorim são muito diversificados, a nossa clientela é muito diversificada. Temos pais com nível universitário, que fazem doutorado, mestrado, e pais analfabetos, que tiveram o mínimo de escolaridade. Mas, de qualquer forma, a escola tem uma comunidade que é muito diversificada e isso é muito interessante.
Isso cria um diálogo e uma rede de solidariedade. Teve uma família em que o pai e mãe vieram para São Paulo fazer doutorado na USP e havia uma pessoa que trabalhava na casa deles fazendo trabalho doméstico. Os filhos dela e desse casal, todos estudavam aqui. Então, essa convivência é um aprendizado maravilhoso. No Conselho, não há essa diferença de ‘classe social’. Já faz uns quatro anos que a gente também tem um pai que usa cadeira de rodas. E isso muda em muita coisa, ele é o presidente do Conselho Municipal da Pessoa Deficiente, o Gilberto Frachetta. Ele é muito rígido nessas questões, o que é fantástico. Existe um protetor dessa questão dentro da escola.
Este ano, estamos com uma criança que veio do ‘Lugar de Vida’ (Pré escola terapêutica do Instituto de Psicologia da USP), com um laudo de autismo. A menina está bastante comprometida, ela tem dez anos e é a primeira vez que vem à escola. A idéia do ‘Lugar de Vida’ é que essa menina fosse para uma EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil). O pai saiu à procura de escolas e veio aqui, quando resolveu que queria esta escola.
Mas o Amorim não tem educação infantil. Aí o NAE (Núcleo de Ação Educativa) achou melhor que ela entrasse no ensino fundamental mesmo, porque já tinha dez anos e seria bom ter contato com crianças mais velhas. A Amanda, então, acabou vindo para o Amorim e no começo sua chegada foi bastante conturbada porque ela é uma criança que depende muito ainda de uma outra pessoa que esteja junto.
Quando eu a conheci, achei que realmente o melhor para ela teria sido uma EMEI, mas agora ela está superadaptada. Vem três vezes por semana, mas já vai começar a vir os cinco dias. Nós conseguimos, para os dias em que a Amanda vem, uma estagiária da USP de psicologia para acompanhá-la. Não só a ela, mas a classe toda. Se a Amanda estiver bem, ela ajuda em outras coisas.
Existe uma dificuldade dela se organizar dentro da escola, as professoras têm medo que ela saia e vá embora, ela não fala, ainda não consegue sustentar o olhar. Mas ela já apresenta grandes progressos, é impressionante. Não apenas por parte dela, mas por parte da mãe, da família.
Essa mãe mudou completamente. Assim que chegou o material da Prefeitura, ela foi a primeira a trazer o material, tudo com nome, lápis apontado e ela ainda não consegue nem pegar num lápis. Então, por conta do projeto que a gente tem hoje, a Amanda é uma questão de toda a escola. Quando ela chegou, cada um reagia diferente com ela, por exemplo, uma inspetora de alunos rolava na grama com ela, cada um ficava junto de um jeito. Isso foi muito bacana porque nós começamos a ver que a escola podia assumir a questão.
A escola tem que ter uma maneira de incluir bastante boa tanto para a pessoa, como para as pessoas que já estão no processo escolar. Isso não pode ser de qualquer jeito, tem que haver o cuidado. Nunca recebemos crianças com outros tipos de deficiência, visual, auditiva; o nosso caso mais grave é a Amanda. Ela ainda não está em processo de alfabetização, não é essa nossa perspectiva por enquanto.
Projeto pedagógico
Estamos trabalhando com o primeiro e o quinto ano do ensino fundamental dentro desse projeto. A perspectiva dele é a de que os alunos comecem a construir uma autonomia de aprendizagem.
Então, por exemplo, os 105 alunos do primeiro ano ficam juntos numa sala só, mas não juntos o tempo todo. A mesma coisa acontece no quinto ano. O projeto começou este ano e a idéia foi iniciá-lo com as duas pontas de ciclo, antes de expandir para a escola inteira.
Antes, havia três salas de quinto ano que nós juntamos em uma só. A gente tem, no primeiro ano, por exemplo, 21 grupos de cinco alunos. E estão ‘nomeados’ com letras, até a vigésima primeira. Só que elas nunca ficam juntas o tempo todo.
As atividades são as seguintes: jogos cooperativos, informática, circo, capoeira, sala de leitura, educação ambiental, música e a sala de aula que é a sala de atividade. No primeiro ano, é basicamente o trabalho de leitura, escrita e matemática. No quinto ano, é o trabalho de português, matemática, geografia, história e ciências. As outras atividades para os maiores são inglês, artes e teatro. Essas atividades extras estão sendo trabalhadas como oficinas.
Durante a semana, todas passam por todas as atividades. O grupo A, por exemplo, vai sempre junto em todas as atividades que são da rotina. Em cada atividade, sempre estão cinco grupos ou 25 alunos, sempre grupos diferentes da atividade anterior. Assim, os 21 grupos se encontram sempre nas atividades. E o melhor é que, para 25 alunos, há três professores na sala de aula, o que permite que cada um dispense uma atenção maravilhosa para cada grupo.O professor consegue trabalhar pessoalmente com as questões de cada um.
A escolha dos grupos foi feita aleatoriamente, no começo. No decorrer do ano, houve algumas modificações. No primeiro ano, na perspectiva da alfabetização, houve um esforço para que os grupos se organizassem de forma que os alunos que têm mais facilidade ajudarem os outros. No quinto ano, houve casos de pessoas que são muito amigas, mas ‘não funcionam’ na hora de trabalhar juntas.
As mudanças ocorreram, mas antes há diversas conversas com o grupo, com o aluno que vai ser mudado. Então, a perspectiva é a de que o aluno trabalhe o tempo todo em grupo, mas a aprendizagem dele é pessoal, porque cada um aprende ou entende de um jeito diferente.
A idéia da classe homogênea (heterogênea) vem desse princípio. No quinto ano, como os alunos já são alfabetizados, a construção da autonomia é mais rápida e mais fácil. Os professores organizam um currículo em termos de objetivos, os alunos escolhem esses objetivos e trabalham em cima deles.
O professor traça os objetivos a partir do currículo, que é um recorte do conhecimento que as pessoas fazem, já que hoje em dia não existe mais currículo oficial. Nos atuais parâmetros curriculares cabe tudo e mais um pouco. Então, como é muito difícil você definir um currículo ou um projeto de acordo com os professores que estão na escola, já que muitos não ficam aqui ou não trabalham com certo livro, por exemplo, é a comunidade que deve ser a mola propulsora de um projeto que de fato permaneça”.

Revolução no Ensino

O Estado de São Paulo, 13 de maio de 2004

Revolução no ensino

Numa escola municipal crianças estudam em grupos de 5, ouvem música clássica e decidem quando serão avaliadas
RENATA CAFARDO

As paredes foram derrubadas e surgiu um amplo e claro salão que uniu as três turmas de 5.ª série. A mudança física simboliza bem a reviravolta vivida pela escola municipal Amorim Lima. Com os tijolos, foram embora provas, aulas expositivas, o foco na figura do professor. As crianças agora estudam em grupos de cinco, ouvem música clássica na aula e escolhem quais atividades farão na semana. A avaliação? Só quando elas se dizem prontas.
A inspiração veio da Escola da Ponte, instituição portuguesa de 28 anos que recentemente começou a conquistar admiradores por aqui. A idéia é a de que cada criança tem seu ritmo diferente de aprendizagem. Lá, os objetivos, tarefas e deveres dos alunos são decididos por eles mesmos numa assembléia, não há salas de aula, nem séries. Quem vê de fora, a chama de escola democrática, apesar de seu fundador, José Pacheco, preferir o termo cidadã.
“O professor não passa a ser dispensável, ele ganha outras atribuições.
Ajuda a criança a definir objetivos, procura bibliografia para orientá-la, não dá a resposta”, diz Pacheco. Na Amorim Lima – que fica no Butantã e é primeira escola pública a adotar o método -, as professoras estão aprendendo a se tornar polivalentes. São 3 à disposição de 105 alunos num mesmo salão, realizando atividades de diferentes disciplinas. Nenhuma delas está na frente da classe, falando alto, ditando a lição. Passam pelos grupos, tirando dúvidas. “A gente consegue acompanhar o raciocínio da criança enquanto explicamos”, diz a professora Geise Grangeiro Costa.
Pela escola, vê-se grupos de estudantes fora das salas. Uns em aulas de educação ambiental, outros, de teatro. “A gente tem de pegar os livros sozinho, aprender a ser responsável”, diz Cynthia Lima, de 11 anos, enquanto estuda pinturas rupestres. Em uma ficha, ela anota em quanto tempo consegue aprender cada tópico. Quando Cyntia se considerar pronta, a professora fará a avaliação individual. “Tem muito barulho na classe”, reclama sua colega Pamela Pires. Do alto-falante sai uma música suave. “É para ajudar na nossa concentração”, explica Jorge Figueiredo, de 10. “Prefiro rock”, emenda André de Almeida. E volta para o exercício de matemática.
O projeto começou este ano só com as 1.ª e 5.ª séries. Os alunos ainda se acostumam com a novidade, mas a mudança foi proposta pelos próprios pais – orientados pela psicóloga Rosely Sayão. A diretora Ana Elisa Siqueira visitou a Escola da Ponte e é uma das grandes defensoras do modelo. “Não há mais aula vaga. Se falta um professor, o aluno continua a atividade porque tem autonomia”, diz Regina Chaves, mãe de dois alunos.
A secretária municipal de Educação, Cida Perez, também aprova o projeto. O que mais agrada aos educadores é o fato de a proposta lembrar o sistema de ciclos, no acompanhamento individual do aluno e nas avaliações contínuas.
Até então apenas a escola particular Lumiar, na capital, tinha o mesmo perfil. Outras, como as que fazem parte da Pueri Domus Escolas Associadas, tentam introduzir algumas inovações no modelo convencional. A proposta, no entanto, surgiu nos anos 20, com a escola inglesa Summerhill. Depois de mais de 70 anos, ela foi fechada e especula-se que um dos motivos foi a expulsão dos professores pelos próprios alunos.